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Renovação do antidumping é destaque no primeiro dia do Encontro Técnico e Científico em São Gotardo (MG)

23 de novembro de 2023

Ao participar do Encontro Técnico e Científico em São Gotardo (MG), nesta quarta-feira (22), o presidente da Associação Nacional dos Produtores de Alho (Anapa), Rafael Corsino, alertou os produtores da região do cerrado sobre a importância do setor unir forças para garantir, no próximo ano, mais uma renovação do direito antidumping sobre o alho importado da China. Essa é a principal medida de defesa comercial contra a concorrência desleal com o país asiático, que utiliza subsídios governamentais para comercialização do alho abaixo do custo de produção (prática de dumping).

A última renovação do antidumping ocorreu em 2019 e perderá a validade em outubro de 2024. Mas desde 1994, quando ocorreu a primeira equiparação do governo federal aplicada ao alho chinês, os produtores brasileiros contam com esse instrumento de defesa comercial e tiveram condições de ampliar a participação no mercado interno, atendendo hoje cerca de 60% da demanda nacional. “É uma batalha muito grande para conseguirmos o direito antidumping e precisamos do apoio de todos os produtores”, reforçou Corsino. “A Anapa sempre agiu de forma transparente, levando todos os dados e fazendo a defesa consistente da causa dos produtores. Esse é o nosso compromisso. Nós vamos atrás dos melhores dados e das melhores consultorias internacionais para nos munir de informações e de dados oficiais que amparem a prorrogação do direito antidumping no Brasil”, completou.

Além do antidumping, é aplicada ao alho chinês a taxa referente à Lista de Exceção à Tarifa Externa Comum (Letec), cobrada dos produtos importados de países fora do Mercosul. Segundo o presidente da Anapa, sem essas medidas o alho chinês poderia chegar ao Brasil com o valor de R$ 72,00 por caixa de 10kg, considerando CIF de US$ 10,00, FOB US$ 9/cx de 10kg, frete US$ 1,00/cx e dólar de R$ 5,00. O valor estaria muito abaixo do custo de produção do produtor brasileiro, estimado em R$ 100,00 por caixa de 10kg, e retiraria, portanto, a competitividade do produto nacional em relação ao importado. Com o pagamento das taxas, a caixa de alho chinês fica em torno de R$ 112,00.

“Provavelmente, não teríamos mais condições de produzir alho no Brasil e veríamos o mercado ser dominado pelo produto chinês. Isso significaria a perda de empregos no Brasil e a ameaça a renda de muitas famílias que dependem dessa cultura”, completou Corsino.

Produção chinesa

A China é uma potência na mercado do alho, sendo responsável por 77% da produção mundial dessa hortaliça em 2021, de acordo com os últimos dados levantados pela FAO.

Isso significa que das 26 milhões de toneladas produzidas nesse período, 20 milhões estavam no país asiático, que somou ainda 830 mil hectares de área de produção somente na cultura do alho.

Enquanto isso o Brasil aparece como o 13º produtor mundial, em 2021, com 13 mil hectares.

Exportação de alho

A China também está em primeiro lugar do ranking de países exportadores. Em 2022, a exportação de alho no mundo qatingiu a marca de 246 milhões de caixas de 10kg, de acordo com a Comtrade. O principal exportador mundial foi a China com 200 milhões de caixas de 10kg ou 83% do total exportado. Em segundo e terceiro lugar, ficaram a Espanha e a Argentina, respectivamente com 6% e 5% cada.

Alho chinês no mercado brasileiro

Em relação ao Brasil, as importações de alho chinês estão em queda. Entre 2019 e 2023, o maior volume internalizado de alho chinês, foi em 2020, pré-pandemia, com dez milhões de caixas de 10kg. Já em 2021, o volume caiu para 4,47 milhões de caixas e, em 2022, para 2,24 milhões. Em 2023 o volume importado da China deverá ficar ao redor de 1,2% do total exportado pelos chineses, com 2,3 milhões de caixas.

Com a pandemia, o frete marítimo aumentou em até dez vezes. Nesse período ocorreu o aumento da produção brasileira, em especial no Cerrado, que passou de 12 milhões em 2019 para 21 milhões de caixas em 2022, o que supriu essa menor oferta de alho chinês. Além disso, a cassação de liminares judiciais para o não pagamento do antidumping inibiu a entrada de maiores volumes de alho chinês no Brasil.

No entanto, é preciso lembrar que nos anos de 2010 a 2016 o volume importado da China foi de dez milhões de caixas de 10kg por ano. Esse volume pode retornar e/ou até aumentar no caso da não renovação da taxa de antidumping, ameaçando a produção nacional.