Nos últimos anos, com as novas tecnologias disponíveis no mercado agrícola e, principalmente em decorrência do crescimento da demanda da hortaliça no mercado interno, verifica-se um estímulo ao aumento da produção brasileira de alho.
Nesse artigo publicado pela revista Campo e Negócio onde os engenheiros agrônomos e doutorandos em Fitotecnia da Universidade Federal de Viçosa (UFV), falaram sobe o que você ainda não sabe sobre a produção de alho.
Características das cultivares
O alho é caracterizado como sendo planta de clima frio, com exigências térmicas de 18 a 20°C na fase inicial do ciclo, 10 a 15°C durante o período de bulbificação e 20 a 25°C na fase de maturação.
O fotoperíodo também é determinante para a formação do bulbo, entretanto, há presença de variabilidade intraespecífica na espécie, como cultivares de dias longos (tardias) e de dias curtos (precoces).
Nas cultivares de dias longos, em condições de fotoperíodo insuficiente, haverá o favorecimento do crescimento vegetativo em detrimento da formação de bulbos. Por outro lado, as cultivares de dias curtos, quando cultivadas em regiões com fotoperíodo longo, reduzem o ciclo cultural e antecipam o início da bulbificação.
Exigências
O cultivo do alho é exigente quanto a uma série de técnicas, principalmente para produção de alho nobre. Para o plantio, a escolha adequada de cultivares, aquisição e vernalização, irrigação, ponto de colheita ideal e correto armazenamento, são variáveis importantes para o aumento da produção e manutenção da qualidade do produto.
Quanto à produção do alho-semente, cuidados devem ser tomados principalmente quanto à qualidade fisiológica e sanitária, evitando assim a disseminação de doenças. Deve-se priorizar o plantio de bulbilhos grandes, cheios e uniformes, garantindo maior estande de plantas e uniformidade da lavoura.
As grandes empresas produtoras detêm de máquinas de classificação de alho-semente. Em pequenas fazendas produtoras, essa classificação é realizada manualmente. Os bulbilhos não devem ser plantados logo após serem colhidos, uma vez que apresentam dormência.
A dormência do alho pode se prolongar por até 70 dias após a colheita, reduzindo gradualmente com o aumento do tempo de armazenamento.
Alho nobre x comum
As cultivares de alho nobre apresentam bulbos com túnicas de coloração branca e bulbilhos com película de coloração roxa intensa e número de bulbilhos variando de oito a 12 por bulbo.
Já o alho comum possui a cor dos bulbos variando de branca a creme, com presença de estrias de antocianina e média de 15 bulbilhos por bulbo.
Quanto à data de plantio, deve-se observar a exigência da cultivar que será plantada. O alho apresenta variabilidade intraespecífica quanto às exigências térmicas e de duração de luminosidade. O fotoperíodo é determinante para a bulbificação.
Para o cultivo de alho nobre nas regiões centro/norte do Paraná, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Minas Gerais, Goiás e regiões de altitude do norte da Bahia e na Chapada Diamantina, é necessário a realização de vernalização, pois estes apresentam limitações térmicas e de horas de luz.
Já o alho comum, cultivado principalmente por pequenos produtores, possui baixa exigência em fotoperíodo para bulbificar, o que permite ser cultivado em praticamente todas as regiões do Brasil, sem necessidade de vernalização.
Solo
Para o cultivo de alho, deve-se dar preferência a solos de textura média, bem drenados e ricos em matéria orgânica. Deve-se evitar o plantio em solos muito argilosos e pesados, uma vez que podem formar barreiras contra o desenvolvimento normal do sistema radicular e causar deformação dos bulbos. O preparo convencional do solo é fundamental para o cultivo do alho, proporcionando um bom desenvolvimento das raízes e formação de bulbos.
Uma prática comum no cultivo do alho é a realização do encanteiramento, pois facilita os tratos culturais e as operações de colheita. O encanteiramento pode ser feito de forma manual ou mecanizada.
Os canteiros podem ser construídos da seguinte forma: canteiros de 1,20 m, com três fileiras duplas. Os canteiros podem ser espaçados entre si por 0,60 m (permitir a passagem de pessoas para realização dos tratos culturais), as fileiras duplas espaçadas em 0,40m, as fileiras simples espaçadas em 0,10 m e entre plantas 0,08 a 0,10m. Com essa conformação de canteiro, evita-se que os trabalhadores caminhem entre as linhas de plantio, causando compactação e prejudicando o desenvolvimento e qualidade dos bulbos.
Nutrição
Em relação à nutrição, deve-se realizar análise de solo antes do preparo da área, de forma que, se necessário, realize a calagem. Deve-se realizar a adubação orgânica, que pode ser feita tanto na forma de composto ou de esterco completamente curtido.
Quanto à adubação química, deve-se aplicar diretamente nos canteiros, realizando a incorporação cerca de 5,0 cm abaixo e ao lado dos nos sulcos de plantio, evitando contato direto com os bulbilhos.
Irrigação
A irrigação é prática comum nessa cultura, pois a mesma é bastante sensível ao déficit hídrico, entretanto, deve-se evitar a irrigação em excesso. Enquanto a déficit hídrico induz um menor status hídrico da planta, diminuindo o processo fotossintético e, consequentemente, a produtividade, o excesso de água no solo favorece o aparecimento de doenças e estimula o pseudoperfilhamento, que é uma anormalidade genético-fisiológica que constitui no aparecimento de brotações laterais entre as bainhas das folhas normais.
O aparecimento do pseudoperfilhamento pode estar associado a condições de fotoperíodo curto e temperaturas baixas, vernalização, excesso de irrigação e nitrogênio. A implantação de um déficit de hídrico moderado, principalmente no início da diferenciação dos bulbilhos, associado a um manejo adequado do N, pode reduzir o aparecimento dessa anomalia.
A irrigação pode ser feita por aspersão convencional, microaspersão, pivô central ou irrigação localizada via gotejamento. O controle de pragas, doenças e plantas invasoras deve ser feito durante todo o ciclo da cultura.
Colheita
A colheita do alho inicia-se quando as plantas apresentarem aproximadamente 2/3 das folhas amarelas ou secas, fase em que os bulbos encontram-se fisiologicamente maduros. A colheita pode ser feita manualmente ou mecanizada com máquinas desenvolvidas especificamente para este fim. Após a colheita, faz-se a cura.
A fase inicial da cura pode ser feita no próprio local da colheita e a continuação da cura é feita em galpões, à sombra. Recomenda-se curar por três a cinco dias ao sol, e posteriormente por 20 a 50 dias à sombra. É importante que durante a cura os bulbos sejam mantidos com folhas e raízes, pois durante essa fase há ainda remobilização de assimilados da parte aérea para os bulbos.
Cerrado sai à frente
Em termos de capacidade produtiva da cultura, tem-se observado um comportamento interessante. O alho, por ser uma cultura muito exigente no frio (baixas temperaturas) para florescer, é esperado que a região sul seria o local mais óbvio para a produção brasileira.
Entretanto, tem se observado que a maior produtividade tem sido reportada no Cerrado Brasileiro, fazendo desta a área com maior produtividade de alho do mundo. Segundo alguns pesquisadores, este feito é alcançado devido ao uso da tecnologia da câmara fria.
As sementes de alho são colocadas na câmara fria entre 50 e 55 dias antes do plantio para a semente achar que o frio é natural e conseguir produzir. Entre 60 e 70 dias após o plantio, a planta começa a bulbificar e os dentes começam a surgir.
Porém, para conseguir atingir os ótimos números de produtividade, o agricultor precisa escolher muito bem a semente que vai utilizar, pois é ela que vai determinar a produção. Associado á técnica da câmara fria, têm-se as condições climáticas favoráveis presentes na região.
Geralmente o cultivo é feito na época do ano que não chove, então, todo o alho é irrigado por pivô e os controles de doença e pragas ficam muito fáceis, ao contrário do Sul, onde nunca se sabe como será o inverno, se vai chover muito ou pouco.
Entraves
O principal entrave para a produção do alho no Brasil foi, sem dúvida, o fato de as cultivares de alho nobre exigirem temperaturas mais baixas e fotoperíodo longo para a bulbificação, condições estas encontradas apenas no Sul do País.
Apesar de existirem cultivares adaptadas às condições edafoclimáticas do Sudeste e Centro-Oeste, conhecidas como alho comum, tropical ou semi-nobre, estas produzem bulbilhos de forma e aparência menos atrativas ao consumidor e, portanto, pouco exploradas. De forma geral, estima-se que apenas 20% dos produtores cultivam alho comum.
O advento da vernalização tornou possível o cultivo de alho nobre na região central do País. O clima mais seco do Cerrado, que contribui para a redução de problemas fitossanitários na lavoura, juntamente com a introdução de tecnologias para o cultivo em larga escala, foram os principais responsáveis pelas produtividades recordes já mencionadas.
Você pode ler o artigo completo no site da revista Campo e Negócio, que está disponível neste link (clique aqui para acessar).
Autores
Mariane Gonçalves Ferreira Copati marianegonferreira@gmail.com Françoise Dalprá Dariva – Fran_dariva@hotmail.com Manoel Nelson de Castro Filho – manoel.nelson@ufv.br