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Produção de alho: O que você ainda não sabe

05 de novembro de 2020

Nos últimos anos, com as novas tecnologias disponíveis no mercado agrícola e, principalmente em decorrência do crescimento da demanda da hortaliça no mercado interno, verifica-se um estímulo ao aumento da produção brasileira de alho.

Nesse artigo publicado pela revista Campo e Negócio onde os engenheiros agrônomos e doutorandos em Fitotecnia da Universidade Federal de Viçosa (UFV), falaram sobe o que você ainda não sabe sobre a produção de alho.

Características das cultivares

O alho é caracterizado como sendo planta de clima frio, com exigências térmicas de 18 a 20°C na fase inicial do ciclo, 10 a 15°C durante o período de bulbificação e 20 a 25°C na fase de maturação.

O fotoperíodo também é determinante para a formação do bulbo, entretanto, há presença de variabilidade intraespecífica na espécie, como cultivares de dias longos (tardias) e de dias curtos (precoces).

Nas cultivares de dias longos, em condições de fotoperíodo insuficiente, haverá o favorecimento do crescimento vegetativo em detrimento da formação de bulbos. Por outro lado, as cultivares de dias curtos, quando cultivadas em regiões com fotoperíodo longo, reduzem o ciclo cultural e antecipam o início da bulbificação.

Exigências

O cultivo do alho é exigente quanto a uma série de técnicas, principalmente para produção de alho nobre. Para o plantio, a escolha adequada de cultivares, aquisição e vernalização, irrigação, ponto de colheita ideal e correto armazenamento, são variáveis importantes para o aumento da produção e manutenção da qualidade do produto.

Quanto à produção do alho-semente, cuidados devem ser tomados principalmente quanto à qualidade fisiológica e sanitária, evitando assim a disseminação de doenças. Deve-se priorizar o plantio de bulbilhos grandes, cheios e uniformes, garantindo maior estande de plantas e uniformidade da lavoura.

As grandes empresas produtoras detêm de máquinas de classificação de alho-semente. Em pequenas fazendas produtoras, essa classificação é realizada manualmente. Os bulbilhos não devem ser plantados logo após serem colhidos, uma vez que apresentam dormência.

A dormência do alho pode se prolongar por até 70 dias após a colheita, reduzindo gradualmente com o aumento do tempo de armazenamento.

Alho nobre x comum

As cultivares de alho nobre apresentam bulbos com túnicas de coloração branca e bulbilhos com película de coloração roxa intensa e número de bulbilhos variando de oito a 12 por bulbo.

Já o alho comum possui a cor dos bulbos variando de branca a creme, com presença de estrias de antocianina e média de 15 bulbilhos por bulbo.

Quanto à data de plantio, deve-se observar a exigência da cultivar que será plantada. O alho apresenta variabilidade intraespecífica quanto às exigências térmicas e de duração de luminosidade. O fotoperíodo é determinante para a bulbificação.

Para o cultivo de alho nobre nas regiões centro/norte do Paraná, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Minas Gerais, Goiás e regiões de altitude do norte da Bahia e na Chapada Diamantina, é necessário a realização de vernalização, pois estes apresentam limitações térmicas e de horas de luz.

Já o alho comum, cultivado principalmente por pequenos produtores, possui baixa exigência em fotoperíodo para bulbificar, o que permite ser cultivado em praticamente todas as regiões do Brasil, sem necessidade de vernalização.

Solo

Para o cultivo de alho, deve-se dar preferência a solos de textura média, bem drenados e ricos em matéria orgânica. Deve-se evitar o plantio em solos muito argilosos e pesados, uma vez que podem formar barreiras contra o desenvolvimento normal do sistema radicular e causar deformação dos bulbos. O preparo convencional do solo é fundamental para o cultivo do alho, proporcionando um bom desenvolvimento das raízes e formação de bulbos.

Uma prática comum no cultivo do alho é a realização do encanteiramento, pois facilita os tratos culturais e as operações de colheita. O encanteiramento pode ser feito de forma manual ou mecanizada.

Os canteiros podem ser construídos da seguinte forma: canteiros de 1,20 m, com três fileiras duplas. Os canteiros podem ser espaçados entre si por 0,60 m (permitir a passagem de pessoas para realização dos tratos culturais), as fileiras duplas espaçadas em 0,40m, as fileiras simples espaçadas em 0,10 m e entre plantas 0,08 a 0,10m. Com essa conformação de canteiro, evita-se que os trabalhadores caminhem entre as linhas de plantio, causando compactação e prejudicando o desenvolvimento e qualidade dos bulbos.

Nutrição

Em relação à nutrição, deve-se realizar análise de solo antes do preparo da área, de forma que, se necessário, realize a calagem. Deve-se realizar a adubação orgânica, que pode ser feita tanto na forma de composto ou de esterco completamente curtido.

Quanto à adubação química, deve-se aplicar diretamente nos canteiros, realizando a incorporação cerca de 5,0 cm abaixo e ao lado dos nos sulcos de plantio, evitando contato direto com os bulbilhos.

Irrigação

A irrigação é prática comum nessa cultura, pois a mesma é bastante sensível ao déficit hídrico, entretanto, deve-se evitar a irrigação em excesso. Enquanto a déficit hídrico induz um menor status hídrico da planta, diminuindo o processo fotossintético e, consequentemente, a produtividade, o excesso de água no solo favorece o aparecimento de doenças e estimula o pseudoperfilhamento, que é uma anormalidade genético-fisiológica que constitui no aparecimento de brotações laterais entre as bainhas das folhas normais.

O aparecimento do pseudoperfilhamento pode estar associado a condições de fotoperíodo curto e temperaturas baixas, vernalização, excesso de irrigação e nitrogênio. A implantação de um déficit de hídrico moderado, principalmente no início da diferenciação dos bulbilhos, associado a um manejo adequado do N, pode reduzir o aparecimento dessa anomalia.

A irrigação pode ser feita por aspersão convencional, microaspersão, pivô central ou irrigação localizada via gotejamento. O controle de pragas, doenças e plantas invasoras deve ser feito durante todo o ciclo da cultura.

Colheita

A colheita do alho inicia-se quando as plantas apresentarem aproximadamente 2/3 das folhas amarelas ou secas, fase em que os bulbos encontram-se fisiologicamente maduros. A colheita pode ser feita manualmente ou mecanizada com máquinas desenvolvidas especificamente para este fim. Após a colheita, faz-se a cura.

A fase inicial da cura pode ser feita no próprio local da colheita e a continuação da cura é feita em galpões, à sombra. Recomenda-se curar por três a cinco dias ao sol, e posteriormente por 20 a 50 dias à sombra. É importante que durante a cura os bulbos sejam mantidos com folhas e raízes, pois durante essa fase há ainda remobilização de assimilados da parte aérea para os bulbos.

Cerrado sai à frente

Em termos de capacidade produtiva da cultura, tem-se observado um comportamento interessante. O alho, por ser uma cultura muito exigente no frio (baixas temperaturas) para florescer, é esperado que a região sul seria o local mais óbvio para a produção brasileira.

Entretanto, tem se observado que a maior produtividade tem sido reportada no Cerrado Brasileiro, fazendo desta a área com maior produtividade de alho do mundo. Segundo alguns pesquisadores, este feito é alcançado devido ao uso da tecnologia da câmara fria.

As sementes de alho são colocadas na câmara fria entre 50 e 55 dias antes do plantio para a semente achar que o frio é natural e conseguir produzir. Entre 60 e 70 dias após o plantio, a planta começa a bulbificar e os dentes começam a surgir.

Porém, para conseguir atingir os ótimos números de produtividade, o agricultor precisa escolher muito bem a semente que vai utilizar, pois é ela que vai determinar a produção. Associado á técnica da câmara fria, têm-se as condições climáticas favoráveis presentes na região.

Geralmente o cultivo é feito na época do ano que não chove, então, todo o alho é irrigado por pivô e os controles de doença e pragas ficam muito fáceis, ao contrário do Sul, onde nunca se sabe como será o inverno, se vai chover muito ou pouco.

Entraves

O principal entrave para a produção do alho no Brasil foi, sem dúvida, o fato de as cultivares de alho nobre exigirem temperaturas mais baixas e fotoperíodo longo para a bulbificação, condições estas encontradas apenas no Sul do País.

Apesar de existirem cultivares adaptadas às condições edafoclimáticas do Sudeste e Centro-Oeste, conhecidas como alho comum, tropical ou semi-nobre, estas produzem bulbilhos de forma e aparência menos atrativas ao consumidor e, portanto, pouco exploradas. De forma geral, estima-se que apenas 20% dos produtores cultivam alho comum.

O advento da vernalização tornou possível o cultivo de alho nobre na região central do País. O clima mais seco do Cerrado, que contribui para a redução de problemas fitossanitários na lavoura, juntamente com a introdução de tecnologias para o cultivo em larga escala, foram os principais responsáveis pelas produtividades recordes já mencionadas.

Você pode ler o artigo completo no site da revista Campo e Negócio, que está disponível neste link (clique aqui para acessar).

Autores

Mariane Gonçalves Ferreira Copati  marianegonferreira@gmail.com Françoise Dalprá Dariva – Fran_dariva@hotmail.com Manoel Nelson de Castro Filho – manoel.nelson@ufv.br