Uma das razões é a pressão do alho importado no mercado brasileiro
O 30º Encontro Nacional do Alho vai reunir 700 produtores em Flores da Cunha no dia 20 de outubro, no salão paroquial da Igreja Matriz. O município é um dos principais produtores de alho da Serra Gaúcha, região que concentra 90% da produção do Rio Grande do Sul. Além de Flores da Cunha, São Marcos, Ipê, Vacaria, Nova Pádua e Caxias do Sul são os municípios que concentram as lavouras.
Na Serra, o plantio começou no final de maio e a colheita ocorre entre a metade de novembro e a metade de dezembro. No momento, a produção está na fase de coroa, quando começam a aparecer os primeiros bulbilhos, que são os dentes do alho. Conforme o agrônomo Eri José Zanella, da Emater de São Marcos, essa fase é crucial e determina a qualidade do alho que será colhido na parte final do ano. Dependendo das condições do tempo e tratamento da planta nessa fase, que vai até o final de setembro, os dentes ficam irregulares, diminuindo a aceitação pelo consumidor no mercado e reduzindo o preço. Alguns exemplares não são nem selecionados, sendo encaminhados direto para a indústria alimentícia, que produz artigos como pastas e molhos.
O ideal, em termos do tempo, é que haja poucos dias nublados; com pouco sol, os dentes crescem buscando a luz e o bulbo fica irregular. Com predomínio de sol, ele fica mais uniforme. Outro ponto importante é a adubação com nitrogênio.
No Estado, são 1.600 hectares plantados no total. Neste ano, a produção deve ser menor do que a de 2016. Conforme Zanella, no último ano o comportamento do tempo foi o ideal e a produtividade ficou acima da média, com 12 toneladas por hectare. Neste ano, a projeção é de 10 toneladas. A qualidade do alho também deve diminuir porque houve excesso de chuva no período do plantio, seguido de um período de seca. Além disso, a falta de frio também contribui para bulbos mais desuniformes; enquanto o ideal são 800 horas de frio no inverno, neste ano foram menos de 200. Isso afeta a produção que não foi vernalizada – isto é, cujas sementes não foram mantidas em câmaras frias antes do plantio.
Falando nisso, a técnica é utilizada para uma variedade de colheita precoce que ganhou espaço nos últimos anos: o alho chonan livre de vírus, que começa a ser colhido nesta segunda-feira (25). Com manteunção das sementes por 60 dias em câmara fria antes do plantio, essa variedade tem o ciclo reduzido. Ela é livre de vírus através de um processo feito em laboratório em uma empresa de Curitiba, com tratamento da planta em altas temperaturas. As plantas tratadas em laboratório são reproduzidas e cultivadas por um agricultor da região, que revende as sementes aos demais produtores. O cultivo dessa variedade exige menos adubos e herbicidas.
O alho cultivado na Serra é o nobre roxo. Além da variedade chonan, é cultivada a São Valentim. Conforme Zanella, para essa variedade ainda não foi desenvolvido um processo para livrá-la de vírus porque ela não resiste à alta temperatura como a variedade chonan.
O preço do alho neste ano também deve cair, ficando a R$ 80 a caixa de 10 quilos para o tipo do alho produzido na Serra. No ano passado, mesmo com safra maior, o preço foi mais alto também, com R$ 120 a caixa. O motivo da queda neste ano, conforme Zanella, está ligado ao aumento da produção de alho no mundo, que pressiona para baixo o preço do alho no Brasil que sofre a concorrência com o produto de fora; quase 80% do produto consumido aqui é importado, principalmente da China.