O futuro da produção de alho no Brasil nunca esteve tão ameaçado. A última safra
produzida pelos Estados do Sul sofreram com a entrada do produto importado e os
resultados dessa concorrência desleal são: barracões cheios de alho e agricultores
endividados. Em encontro com os produtores gaúchos e catarinenses, na última
semana, o presidente nacional da ANAPA, Rafael Jorge Corsino, mostrou aos
produtores o enfrentamento institucional que está sendo feito em prol da cultura do
alho nas regiões.
“Os produtores do Sul são tipicamente agricultores familiares e também são os
primeiros que sentem a crise. Precisamos de soluções rápidas para o problema de
comercialização do alho, principalmente em Santa Catarina, aonde a situação é mais
crítica”, disparou Corsino.
O encontro com os produtores gaúchos, organizado pela vice-presidente da ANAPA,
Olir Schiavenin, e pelo presidente da estadual AGAPA, Valdir Bueno, reuniu
produtores de Flores da Cunha (RS) e região, no auditório da cidade, na última quinta-
feira (3).
O engenheiro agrônomo, Marco Antônio Lucini, apresentou o panorama do mercado
de alho deste ano. Na visão de Lucini, apesar da queda do preço do produto, a safra
deste ano ainda pode ser positiva para produtor, caso o alho chinês chegue ao Brasil
pagando todas as tarifas de importação, como a taxa antidumping e a LETEC.
Sobre as importações, Corsino destacou que, além da concorrência desleal, o setor
luta contra o que a ANAPA chama de “máfia das liminares”. De acordo com o
presidente, um pequeno grupo de empresas importadoras tem entrado com liminares
judiciais para não pagar a tarifa antidumping, provocando uma verdadeira bagunça no
mercado de alho brasileiro e prejudicando os produtores nacionais e os importadores
que trabalham dentro das leis.
No próximo dia 22, a prefeitura de São Marcos (RS) promoverá uma audiência pública
para debater a situação do alho. Na ocasião, a diretoria da ANAPA e da AGAPA
emitirá um manifesto, endereçado a bancada gaúcha, mostrando a dificuldade do
setor alheiro, no que diz respeito às liminares judiciais, a comercialização do produto e
o endividamento do produtor rural.
No interior de Santa Catarina, o encontro foi organizado pelo presidente da ACAPA,
Everson Tagliari, em parceria com o presidente da Cooperativa Agropecuária do Meio
Oeste Catarinense (COPAR), Silvio Novacoski. O evento, realizado no clube social do
Núcleo Tritícola, contou ainda com a participação do Deputado Federal Valdir Colatto
(PMDB/SC), que ouviu atentamente as reivindicações dos produtores.
Nos municípios de Frei Rogério, Curitibanos, Lebon Régis, Fraiburgo e Brunópolis a
cultura do alho é a principal fonte de renda de muitas famílias que vivem da
agricultura. Segundo Rodrigo Novacoski, no barracão da cooperativa ainda consta 70
mil caixas de alho para serem comercializadas. Novacoski lembrou que no mesmo
período do ano passado, a comercialização do produto na região já havia sido
encerrada. “Daqui a pouco entra a safra de alho do cerrado e nós nem conseguimos
escoar todo o produto da região”, lamentou.
Com a dificuldade de comercialização, devido à entrada excessiva do alho importado
no mesmo período de venda da safra catarinense, os produtores não estão
conseguindo honrar com seus compromissos financeiros. Em conversa com o
deputado Colatto e o presidente Rafael Corsino, os agricultores reiteraram a
necessidade de prorrogação das dívidas de custeio e a garantia de crédito de
financiamento para a próxima safra.
Segundo a engenheira agrônoma da EPAGRI/SC, Adriana Francisco, a crise do alho
nos municípios está afetando também o comércio local, que já reduziu em 20% o
faturamento. A agrônoma lembrou ainda que é preciso aumentar o rigor na
fiscalização do alho desembaraçado nos portos, fazendo-se cumprir todo o regimento
em vigor da Portaria 242.