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Encontro Técnico Científico em Minas Gerais debate desafios para a cultura do alho

25 de novembro de 2022

A próxima renovação do direito antidumping, a ampliação das parcerias público-privadas, o fortalecimento das associações e o investimento em pesquisas estão entre os principais desafios para a cultura do alho nos próximos cinco anos. As demandas foram debatidas, na quarta-feira (23), no primeiro dia do Encontro Técnico Científico 2022, evento promovido em São Gotardo (MG), a maior região produtora dessa hortaliça no país.

De acordo com o presidente da Associação Nacional dos Produtores de Alho (Anapa), Rafael Corsino, o alho ainda é muito dependente de ações de defesa comercial e da articulação política para fortalecer a produção nacional e combater a concorrência desleal com o produto importado da China. “A próxima renovação do antidumping será em 2024/2025 e teremos muito trabalho para conseguir porque a de 2019 já foi muito difícil. Desde que a China passou a ser reconhecida como economia de mercado, não usamos mais os dados da Argentina para fazer a composição do dumping e comprovar as práticas ilegais. É complicado usar os dados da China porque eles não são confiáveis”, explicou. “Aproveito para dar ciência sobre a atuação do departamento jurídico para a defesa do alho na Letec e na derrubada das liminares. Sem esse trabalho jurídico não teria o alho brasileiro”.

Além da renovação do direito antidumping, Corsino destacou a importância da pesquisa para o aumento da produtividade e a atuação da Anapa nesse tema. Atualmente, a associação financia mais de 30 projetos com universidades e institutos de pesquisa, bem como participou da criação do Conselho Nacional e dos Comitês Regionais de Pesquisa para integrar os especialistas interessados nessa cultura.

Na avaliação do chefe-geral da Embrapa Hortaliças, Warley Nascimento, essas ações são fundamentais para o fomento das pesquisas. “A Embrapa está aqui para ajudar e contribuir para o sucesso do agro”, afirmou. Mas reforçou a necessidade de ampliação do aporte de financeiro do setor privado para a pesquisa. “Esse ano, o governo passou o mínimo de recursos para a Embrapa. Não pense que isso vai mudar com governo A ou B. Cada vez mais estamos vendo a menor alocação de recursos para pesquisa. Vai chegar o momento que teremos recursos só para pagar os nossos salários. Os recursos para pesquisa terão que ser buscados em outros setores. Por isso, essa pareceria público-privada é primordial”, completou Warley Nascimento.

A simplificação dos processos de parceria e a mudança cultural das universidades para que estejam mais próximas do setor produtivo também foram destacadas como desafios a serem superados nos próximos anos, como observou o professor da Universidade Federal de Viçosa, Campus de Rio Paranaíba/MG, Marcelo Reis.

“O que está faltando para as universidades nos próximos cinco anos é uma mudança cultural, e aproximar mais da indústria, mercado e produtor. Outro desafio é simplificar os processos de parceria público-privado, que ainda é muito moroso. As coisas vão mudar, mas tudo o que é cultural leva tempo. A parceria Anapa e Amipa é um exemplo que dá certo”, acrescentou.

O produtor mineiro Hugo Shimada agradeceu a contribuição das associações para a melhora da cadeia produtiva. “O produtor sozinho não consegue acesso aos ministérios. Por isso, temos que investir nas entidades de classe para que tenhamos mais voz nesses espaços de decisão”. Citou ainda como exemplo de uma boa iniciativa para agregar conhecimento aos produtores as viagens internacionais organizadas pela Anapa. “A visita à Espanha trouxe muitas ideias sobre sistema de secagem e mecanização da colheita”, falou Hugo Shimada.

Já o presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de São Gotardo, Rodolfo Molinari, ressaltou a qualificação dos trabalhadores como algo decisivo para melhorar a produção de alho. “ Vamos trazer um centro de excelência do Senar para São Gotardo para capacitar pessoas e criar cursos ligados à cadeia do HF. Também teremos comitês para que os produtores falem sobre o que precisamos investir e os cursos necessários. É preciso mão de obra qualificada desde a pessoa plantando alho até quem que está no barracão”, disse.

Em relação a Minas Gerais, o presidente da Associação Mineira dos Produtores de Alho, Flávio Márcio Silva, elencou os seguintes desafios locais: Integração dos produtores de todo o estado, mecanização para diminuição dos custos, disponibilidade de terras boas e conscientização dos produtores sobre a legislação trabalhista.

“Precisamos marcar uma reunião de planejamento estratégico para os próximos cinco anos para que possamos saber o que caminho que devemos seguir. Temos que ser ousados e criativos. Fazer muito com pouco porque os recursos são escassos”, finalizou Flávio.