O principal problema no setor de produção de alho nacional é a concorrência desleal com a China. É o que afirma o presidente da Associação Nacional de Produtores de Alho (Anapa) e da Associação Nacional de Cebola (Anace), Rafael Corsino. Em entrevista ao CB.Agro — uma realização do Correio Braziliense e da TV Brasília —, nesta sexta-feira (28/8), ele destacou que o mercado nacional tem sido prejudicado por decisões judiciais favoráveis a importadores, que permitem que o alho chinês entre no Brasil com preços abaixo dos praticados aqui.
Ele lembra que a chamada política de antidumping é adotada para equilibrar a competição entre os dois países. Trata-se de uma medida concebida para evitar que produtores nacionais sejam prejudicados por produtos importados. Para Corsino, a política tem sido ineficaz, uma vez que, nas últimas duas décadas, a relação produção/consumo no Brasil diminuiu. “Há 22 anos, produzíamos 80% a 90% do que consumíamos. Fomos perdendo a competitividade em função da abertura do mercado e da competição desleal com a China e também com a entrada no Mercosul. Perdemos espaço para Argentina e China”, disse.
Agora, segundo o presidente da Anapa, o país é muito dependente do mercado internacional. Ele estima que cerca de 50% do que é consumido atualmente vem de importações. Corsino afirma que a Associação trava batalhas no Poder Judiciário e junto à Receita Federal para tentar reverter a situação, que, segundo ele, não se limita apenas ao setor de alho. A existência de empresas laranja que burlam o sistema tributário, revelou, é comum por aqui.
“A política de antidumping é feita para equilibrar a competição entre os dois países, mas ela não tem sido eficiente. Quando as importadoras conseguem liminares na Justiça, prejudicam a competitividade e isso faz com que os produtos cheguem aqui abaixo do custo de produção. Isso acaba atrapalhando o crescimento e a estabilização do setor produtivo. Isso desestimula o plantio, porque o produtor não consegue competir”, alegou.
Rafael avalia que o setor agropecuário tem falhado em se comunicar com o consumidor. Ele explica que alho brasileiro, por exemplo, é de uma qualidade superior ao chinês em termos de nutritividade e sabor. Mas, pela falta de comunicação, é normal que o consumidor opte por pagar mais barato por um produto inferior importado. “O consumidor tem mudado a cultura de comprar algo só porque está mais barato. Ele tem olhado mais a qualidade. E muitas vezes, você pode achar o alho chinês e nacional misturados no mercado. Quem é leigo não sabe diferenciar”, ressaltou.
Sobre isso, Corsino afirma que é preciso fazer um trabalho junto à Associação Brasileira de Supermercados, para manter a rastreabilidade dos produtos brasileiros. “Existe a lei da rastreabilidade que obriga o supermercado a manter a origem e a rastreabilidade do que nós produzimos no campo. Tudo o que nós produzimos tem a nossa digital e todas as informações do que foi feito desde o início da semente até o produto chegar ao supermercado. Essa rastreabilidade precisa ser mantida.”
Corsino contou ainda que, apesar da crise econômica, o setor teve crescimento durante a pandemia. Consequentemente, mais empregos foram gerados. “O consumo subiu cerca de 10% no primeiro semestre. A cebola seguiu a mesma lógica. Em alguns locais, os produtores saem com carros de som buscando contratar pessoas. Não só mantivemos os empregos como aumentamos. Contratamos mais de 20 mil trabalhadores na cadeia do alho, que já contava com 200 mil empregados”, comemorou.
Fonte: Israel Medeiros, Jornal Correio Braziliense