Mesmo com a crescente oferta para profissionais altamente qualificados ou para cargos de liderança, puxados pela expansão do agronegócio, áreas como pecuária de corte, de leite e sucroenergética ainda buscam mão de obra primária (sem qualificação) no mercado.
Dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), com base em pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que dos 4,1 milhões de trabalhadores assalariados rurais, 60% ainda estão na informalidade, cerca de 2,4 milhões de pessoas.
O secretário de assalariados rurais da Confederação Nacional de Trabalhadores na Agricultura (Contag), Elias D’Angelo Borges, diz que nas regiões Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste ainda existe muito trabalho manual, com destaque para os estados de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, além das lavouras nordestinas de cana.
“Também acompanhamos o processo de mecanização que, de fato, substituiu muitos trabalhadores. Inclusive, observamos dificuldades destes empregados em se reintegrarem a outros setores, pelo baixo nível de escolaridade e pouca capacitação, e procuramos alternativas que mudem este cenário”, completa Borges.
Política nacional
Uma das frentes defendidas pela confederação é a Política Nacional para os Trabalhadores Rurais Empregados (Pnatre), que tem o objetivo de proteger os direitos destes trabalhadores. “Ela promove a escolarização, reinserção no mercado, capacitação e combate à informalidade”, destaca.
Segundo o economista do Dieese, Junior Cesar Dias, as áreas que mais empregam na agropecuária são a criação de bovinos, corte de cana-de-açúcar (no Nordeste), fruticultura e lavouras temporárias de grãos, como milho e soja.
“Esse movimento sazonal das culturas gera uma outra característica do setor, os muitos contratos de curto prazo, que viabilizam a informalidade para diversos empregadores”, explica o economista.
Dias conta que um problema existente no setor agrícola é o trabalho escravo. “De acordo com o Ministério do Trabalho, em 1995 tivemos 46 mil empregados que eram escravizados sendo libertados; destes, 44% eram provenientes do meio rural. Este número caiu, mas ainda não chegou a zero”.
Para o economista, enquanto houver informalidade no campo, esta será uma porta aberta para formas de trabalho degradantes que podem degenerar em trabalho escravo.
Só no primeiro semestre de 2014 foram realizadas 57 operações com auditores fiscais, que resultaram na identificação de 421 empregados na condição análoga ao trabalho escravo e autuação de 109 empregadores. O número representa 32% do total de 2013, quando foram resgatados 2.063 trabalhadores.