Por Imprensa Anapa
Referência em inovação e fonte de conhecimento, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) completou 50 anos de existência em 2023, uma trajetória marcada pelo desenvolvimento de soluções tecnológicas que revolucionaram a agricultura brasileira e transformaram o Brasil em uma potência mundial na produção de alimentos. Instalada em 26 de abril de 1973, a Embrapa tem contribuído para o fortalecimento de diversas culturas no país, entre elas a cadeia do alho, e como resultado desses esforços se tornou uma das principais parceiras da Associação Nacional dos Produtores de Alho (Anapa) no meio científico.
É preciso destacar que foi graças ao alho-semente livre de vírus – tecnologia desenvolvida pela Embrapa há mais de 30 anos para fazer a eliminação de vírus e outros patógenos do alho – e a outras inovações que os alhicultores brasileiros conseguiram aumentar significativamente sua produtividade. Para se ter uma ideia, a média nacional de produção passou de 8 t e 10 t de alho por hectare, entre 1980 e 1990, para 25 t/ha, na região do Cerrado, onde se concentram hoje os maiores produtores dessa hortaliça no Brasil. Esse número representa um incremento de 150% na produtividade.
“Não temos dúvidas que o alho-semente livre de vírus foi um divisor de águas na produção de alho no Brasil”, comentou o presidente da Anapa, Rafael Corsino. “Já está mais do que consolidada a nossa parceria com a Embrapa que, junto com outras instituições de pesquisa, não medem esforços em busca de soluções para as dores e problemas que enfrentamos diariamente no campo. Os produtores reconhecem a importância desses trabalhos para o aprimoramento da agricultura”, completou. Corsino lembrou ainda que a Anapa conseguiu articular, em 2022, o repasse de um milhão de reais do Ministério da Agricultura para a Embrapa investir na multiplicação de alho-semente livre de vírus.
Considerada um dos pilares de atuação da Anapa, a pesquisa é vista pelo setor como o caminho para o Brasil alcançar a autossuficiência na produção de alho, aliada com as ações de defesa comercial e a outras políticas públicas de incentivo à alhicultura nacional. Hoje, a população brasileira consome aproximadamente 350 mil toneladas de alho, sendo que 60% dessa demanda é atendida pela produção interna e 40% pela importação, especialmente da Argentina e da China.
A mudança nesse cenário e o aumento da produtividade dependem da superação de alguns desafios, como a necessidade de mecanização do plantio e da colheita; a pesquisa com ênfase no manejo fitossanitário; o desenvolvimento e a recomendação de novas cultivares; a pesquisa em manejo de solos; e os ajustes na tecnologia de vernalização de sementes visando ao aumento de produtividade e à melhora da resposta da cultura às condições climáticas adversas, entre outros.
Solenidade Embrapa 50 anos
O aniversário da Embrapa foi celebrado na sede da empresa, em Brasília, no dia 26 de abril de 2023, com lançamentos de tecnologias e publicações, assinatura de acordos de cooperação, homenagens, e pelo anúncio da nova presidente, a pesquisadora Sílvia Massruhá. A cerimônia reuniu autoridades do governo federal, parlamentares, empresários e entidades representativas do agronegócio, como a Anapa, além dos gestores da época da criação da estatal: o ex-ministro da Agricultura Luiz Fernando Cirne Lima, o economista José Pastore e o ex-presidente da Embrapa Eliseu Alves, homenageados durante a solenidade.
“Foi uma honra conhecer mais sobre a história da Embrapa e os seus idealizadores. Temos que parabenizar todos os pesquisadores e colaboradores dessa grande instituição pelo excelente trabalho que estão desempenhando ao longo desses anos”, destacou Corsino, presente nas celebrações.
Ao discursar no evento, o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, aproveitou a oportunidade para destacar a importância das mulheres em cargo de gestão. “A Embrapa fez a revolução da agropecuária no País. Agora, nos seus 50 anos, fortalece o empoderamento das mulheres brasileiras indicando como presidente, pela primeira vez na sua história, uma mulher cientista”, ressaltou o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, referindo-se à indicação da pesquisadora Sílvia Massruhá. Ela assumiu o cargo no dia 1º de maio.
Na ocasião, foi apresentado o balanço social da empresa que, trouxe, em 2022, um retorno de quase 35 reais para cada real investido na Empresa, sendo apurado um lucro social de quase R$ 126 bilhões, o que impactou na geração de mais de 95 mil novos empregos em 2022. “Os números comprovam que vale a pena investir em pesquisa e inovação. E o Brasil se orgulha de conquistas os solos de forma sustentável”, disse o então presidente da Embrapa, Celso Moretti.
Ele lembrou ainda que, nos últimos quatro anos, a Embrapa entregou mais de 200 ativos tecnológicos destinados à agricultura e pecuária brasileira. Durante a celebração, foram anunciadas mais de 40 soluções tecnológicas, sendo 29 voltadas para a cadeia produtiva vegetal, como cultivares, bioinsumos, zoneamento agroclimáticos e sistema de produção. Cinco tecnologias para a cadeia produtiva animal, como forrageiras para bovinocultura e testes laboratoriais para a piscicultura, e sete softwares, aplicativos e equipamentos também foram lançados.
A Embrapa anunciou ainda três novas publicações, com destaque para “O Brasil em 50 Alimentos”, que apresenta 50 alimentos produzidos no Brasil, selecionados por sua importância econômica, social e científica. O alho é um dos alimentos destacados no livro. As demais obras são: “A Embrapa na Agricultura Tropical” e “O Futuro da Agricultura Brasileira – 10 visões”.
Quem é Sílvia Massruhá?
Sílvia Massruhá é doutora em Computação Aplicada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), onde apresentou a tese O modelo de inteligência artificial para diagnóstico de doenças de plantas. É mestre em Automação pela Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e graduada em Análise de Sistemas pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas).
Mineira de Passos (MG), ingressou na Embrapa em 1989, participando de importantes transformações da área de informática na agropecuária, desde a fábrica de softwares, passando pela década da internet até a presente era digital, em que a computação é transformada no terceiro pilar da pesquisa científica, ao lado da teoria e da experimentação, segundo a pesquisadora.
Entre suas áreas de conhecimento está o desenvolvimento de tecnologias para sistemas complexos ou para soluções interdisciplinares portadoras de futuro, que se materializa no uso de ferramentas como Inteligência Artificial, blockchain e Internet das Coisas (IoT), entre outras.
“É uma honra assumir a direção da Embrapa na ocasião tão especial dos recém-completados 50 anos. É também um marco na gestão da Instituição, que terá uma mulher na Presidência pela primeira vez. Um passo importante da Empresa rumo a gestões cada vez mais igualitárias e inclusivas”, declarou. Ela citou ainda alguns desafios trazidos pelas mudanças no agro. “No setor de alimentos, os consumidores se preocupam em obter produtos mais saudáveis e com transparência de informações. No setor energético, o agro tem muito a contribuir na transição para matrizes mais limpas. A pesquisa tem muito a desenvolver nessas e outras áreas sempre mantendo o foco na sustentabilidade ambiental, social e econômica”, disse.
Durante mais de três décadas na estatal, Sílvia esteve vinculada à Embrapa Informática Agropecuária, em Campinas (SP), que, em de setembro de 2021, passou a se chamar Embrapa Agricultura Digital para melhor refletir seu papel multidisciplinar e transversal. A mudança aconteceu durante a gestão da pesquisadora na Chefia-Geral do centro de pesquisa (2015 a 2022). No período anterior, de agosto de 2009 a março de 2015, exerceu o cargo de chefe de Pesquisa e Desenvolvimento.
Antes de assumir cargos de gestão, Sílvia atuou por 20 anos na pesquisa, liderando projetos na área de engenharia de software, inteligência artificial e computação científica aplicada à agricultura. A pesquisadora lidera o recém-criado Centro de Ciência para Desenvolvimento em Agricultura Digital (CCD-AD/SemeAr), apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que ajudou a idealizar, com o objetivo de estruturar o processo de transformação digital no agro de modo a reduzir desigualdades no acesso a tecnologias emergentes.