O Brasil encerrou 2022 com um aumento das importações de alho da Argentina e a prática de preços subfaturados pelo país vizinho, como mostra o Panorama de Mercado, elaborado pelo engenheiro agrônomo Marco Antônio Lucini e divulgado pela Associação Nacional dos Produtores de Alho (Anapa). Entre janeiro e dezembro, o mercado brasileiro importou quase 12 milhões de caixas de 10kg, com um preço médio de US$ 12. O volume ficou um pouco menor que no ano de 2021 (12,57 milhões), mas é preciso destacar o crescimento das importações do alho argentino.
Fonte: comexstat.mdic.gov.br
De acordo com o documento da Anapa, a Argentina foi responsável por 73% da carga que chegou ao Brasil, o que equivale a 8,73 milhões de caixas, foi o maior valor registrado desde em 1997 (9,24 milhões de caixas). Os produtores do sul são os mais impactados pelo alho argentino devido a safra coincidente. Somente em dezembro, o total internalizado de alho dos hermanos foi quase 1,5 milhão de caixas, um recorde para o mês de dezembro.
Fonte: comexstat.mdic.gov.br
O preço praticado pelos argentinos foi bem abaixo do esperado e muito similar ao custo de importação do alho chinês sem o pagamento da taxa de antidumping. “É complicado o produtor nacional competir, pois aqui pagamos todo o “custo Brasil” de impostos e não temos como subfaturar pois já está embutido nos valores dos insumos, óleo diesel, energia elétrica, telefonia, mão de obra, caixaria, frete, icms, etc”, destaca o documento.
Por fazer parte do Mercosul, o alho vindo da Argentina não paga imposto de importação, mas precisa adequar-se às novas normas e padrões de classificação. Segundo denúncias das associações de produtores do sul do Brasil, boa parte do alho de lá importado não seguiu as regras definidas para o bloco em novembro e dezembro de 2022.
China
Ao logo do ano de 2022, a Argentina dominou o mercado de importações para o Brasil. A China só ofertou mais alho nos meses de entressafra dos argentinos: agosto, setembro e outubro. Para se ter uma ideia, o volume importado da China em 2022 foi o menor dos últimos 21 anos, com somente 2,2 milhões de caixas.
Fonte: comexstat.mdic.gov.br
Desde de 2020, observa-se uma queda drástica das importações do alho da China devido a vários fatores, como a pandemia, falta de navios e containers, frete caro, cassação de liminares, dólar acima dos R$ 5,20 e, principalmente, pela maior oferta do alho brasileiro tanto em volume, como qualidade padrão e preços competitivos.
Apesar da perda de espaço no Brasil, o país asiático segue com prática predatória de mercado. O custo médio para internalizar o alho chinês, em dezembro de 2022, com base no preço FOB de US$ 9,00/caixa, frete de US$ 2,50/caixa e dólar de R$ 5,20, foi de R$ 130 a caixa de dez quilos, pagando a taxa de antidumping. Alhos com liminares chegaram aos importadores a R$ 90,00.
Expectativas 2023
Nos próximos cinco meses, a oferta de alho será predominantemente com alhos argentinos, ao redor de 50% do consumo como ocorreu em dezembro de 2022, com a variedade “chinesa” lá cultivada em 70% das áreas. Os alhos do sul e os remanescentes do cerrado abastecerão em torno de 45% do consumo nacional nesse período e em menor escala (5%) os alhos importados do Chile e China.
Devido a grande oferta de alho nesse período prevê-se um mercado lento, travado como tem ocorrido nos últimos anos. Em 2023, os preços do mercado nacional continuarão atrelados, em parte, ao valor, a oferta mensal e a qualidade do alho argentino a ser internalizado, além da cotação do dólar aqui e lá em Mendoza.