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Para produtores, irrigação deve entrar mais nas discussões do setor

18 de junho de 2021

Área atual irrigada é pequena, e legislação desfavorável inibe ainda mais os investimentos

A agricultura quer discutir mais o tema da irrigação. É preciso trazer
à tona o assunto como opção para aumento de produção, agregação de valor e redução dos riscos climáticos.

A avaliação é de Nelson Ananias Filho, coordenador de
Sustentabilidade da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária
do Brasil). Essas discussões devem ocorrer dentro da legislação e
das normas para que haja uma exploração segura do uso da água.
Lineu Rodrigues, pesquisador da Embrapa, diz que é preciso colocar
a agricultura irrigada no centro das discussões, levando-se em
consideração políticas alimentar e energética.

Há uma complexidade no tema e, às vezes, as questões políticas
fogem do alcance científico. Os benefícios da adoção desse sistema,
que ainda é pequeno no Brasil, no entanto, é grande, segundo ele.
Entre eles, está o da produtividade. Dependendo da cultura, a
irrigação eleva de três a seis vezes o potencial produtivo das
lavouras. A irrigação dá uma estabilidade ao setor, reduzindo a
variabilidade anual da produção, uma vez que reduz o impacto do
clima e das mudanças climáticas.

O pesquisador destaca, ainda, que a irrigação viabiliza a produção
de várias culturas, como a de hortaliças, e durante o ano todo, além
de dar melhor qualidade final ao produto.
A irrigação tem também um efeito ambiental. Reduz a necessidade
de abertura de novas áreas e aumenta o sequestro de carbono,
afirma.

Do lado social e econômico, o pesquisador destaca a geração de
dois a seis empregos por hectare na cadeia, além de propiciar R$ 55
bilhões por ano, como ocorreu em 2019.
O Brasil irriga apenas 8,2 milhões de hectares, e um dos gargalos
para isso é o emaranhado da legislação. O projeto de um produtor
leva de dois a cinco anos para ser liberado, o que desincentiva os
investimentos.

Foram os problemas enfrentados por Sérgio Pitt, tradicional produtor
do oeste da Bahia que utiliza a irrigação. As liberações de outorgas
não evoluíram com eficiência, e são processos sobre processos,
atrasando a programação dos produtores, afirma ele.

Além disso, a energia elétrica, outro grande gargalo do setor, nem
sempre mantém consistência e qualidade. São concessões antigas,
promovidas pelos estados, e que não contemplam cláusulas
específicas para os produtores.

Mas a irrigação tem o seu lado bom, segundo Pitt. Apesar dos
investimentos médios de aproximadamente R$ 20 mil por hectare, o
produtor consegue planejar suas lavouras, antecipando ou
postergando o plantio, conforme for mais conveniente.
Com isso, ele consegue produtividade mais elevada e
aproveitamento melhor das máquinas e da mão de obra.

Tem a possibilidade, ainda, de colocar o seu produto no mercado em
momento diferente do dos demais produtores, obtendo preços mais
rentáveis.

Pitt afirma que já há uma evolução no manejo das áreas irrigadas. O
produtor adquiriu novas técnicas, calibra melhor a utilização da água
e planeja de forma mais adequada as culturas.

Quanto aos investimentos, ele diz que são pesados no início, mas
que, depois de três a cinco anos, são recuperados.
Para Mariane Crespolini, diretora de Produção Sustentável e
Irrigação do Ministério da Agricultura, a irrigação é fundamental para
a sustentabilidade. Garante uma segurança alimentar e auxilia no
desafio da mudança climática.

A agricultura é o setor mais vulnerável às mudanças climáticas, e a
irrigação é estratégica para o enfrentamento desse desafio,
acrescenta ela.

Durval Dourado Neto, professor da Esalq, afirmou recentemente à
coluna que o país tem potencial para irrigar 53,4 milhões de
hectares. Desta área, 15,5 milhões têm uma alta aptidão. Ou seja,
solo, possibilidade de água, mão de obra especializada,
infraestrutura, energia, armazenagem e conectividade são bastante
favoráveis à adoção da irrigação nessas áreas.

Em um seminário realizado nesta terça-feira (15), o setor determinou
15 de junho como o dia da agricultura irrigada. Um dos motivos da
escolha foi por essa data estar próxima da do dia do meio ambiente,
afirma o pesquisador da Embrapa.