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CNA divulga relatório com impacto do coronavírus em cada setor do agro brasileiro

30 de março de 2020

A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) divulgou neste sábado um relatório sobre os impactos do coronavírus no agronegócio. A análise foi feita considerando o período entre segunda (23/3) e sexta-feira (27/3).

Os dados são levantados por um grupo de monitoramento da crise criado pela CNA. Veja, a seguir, os principais pontos do relatório:

Frutas e hortaliças

Um dos setores mais atingidos pela crise, já que o fechamento de restaurantes, bares e feiras livres reduziu significativamente a demanda desses produtos. Nos principais centros consumidores, o preço do tomate caiu em média 37% em relação à semana passada, que já foi de baixa.

Para amenizar os impactos negativos aos produtores, a CNA tem atuado para ampliar as compras governamentais de alimentos, ampliar também a rede de fornecedores às grandes redes de varejo e buscado alternativas para venda online dos produtos pelas cooperativas e produtores rurais.

Exportadores de frutas relatam uma suspensão drástica das exportações por via aérea. As exportações eram feitas basicamente em porões de voos de passageiro, os quais estão praticamente indisponíveis no momento. Anteriormente à crise do Covid-19, as frutas partiam de diversas regiões do País para destinos como União Europeia, EUA, Emirados Árabes e outros.

Flores e plantas ornamentais

O setor, que gera mais de 1,01 milhão de empregos diretos e indiretos, foi fortemente prejudicado nas duas últimas semanas devido à redução drástica das compras desses produtos. Estima-se que o setor já perdeu R$297,7 milhões em faturamento (Ibraflor), podendo agravar caso a quarentena se mantenha pelos próximos meses.

Boi gordo

Os preços começaram a cair na semana mas o produtor preferiu segurar o boi no pasto à venda. Com isso, os frigoríficos voltaram a negociar no patamar de R$ 200 por @, em SP. Ao final da semana, a quantidade de animais negociados foi a maior dos últimos 10 dias, o que deve alongar as escalas de abates dos frigoríficos e pressionar cotações futuras novamente.

Lácteos

Pequenas indústrias lácteas localizadas principalmente no Nordeste do Brasil anunciaram redução na coleta de leite, preocupando os produtores que ficaram sem compradores. Diferentemente, as grandes indústrias e cooperativas adotaram a estratégia de remanejar sua produção para UHT e leite em pó. Algumas indústrias do Rio Grande do Sul e Goiás que comercializam produtos lácteos para outros estados apontaram dificuldades com o frete retorno.

Ovos

Diante da forte demanda, os preços de ovos têm se valorizado diariamente. Em março, o preço pago ao produtor já acumula alta de 15,8%.

Ração animal

Uma grande preocupação dos pecuaristas de tem sido com os custos da ração. Atualmente, a ração base (30% farelo de soja e 70% farelo de milho) está 19% mais cara do que a média do mês de fevereiro. Isso se deve às constantes valorizações do milho e da soja no mercado interno, influenciadas por demanda aquecida e valorização do dólar.

Aquicultura

A comercialização de camarão tem sofrido grande impacto devido ao fechamento do food service. Como alternativa aos produtores, a CNA fez contato com grandes redes varejistas do País, as quais já começaram a ampliar os pedidos de compra do produto.

Commodities agrícolas

Commodities agrícolas, como soja, milho e café registraram valorizações na semana, influenciadas pela demanda aquecida, estoques baixos e manutenção do câmbio alto. No setor sucroenergético, os preços do etanol se mantiveram estáveis, mas com tendência de baixa diante das perspectivas de queda no consumo.

Até o momento, os problemas enfrentados por esses setores têm sido principalmente quanto ao fechamento de lojas e revendas que fazem reposição de peças e equipamentos para maquinários agrícolas e ao escoamento. Iniciativas regionais de impedimento do fluxo de caminhões ocorreram mas já foram solucionadas.

Medidas adotadas no campo

A colheita de café e cana se iniciam em breve e os setores já estão adotando medidas para evitar a contaminação por Covid-19, como a redução do número de trabalhadores transportados nos ônibus, ampliação dos horários de funcionamento dos refeitórios e orientações sobre higienização individual e frequente.

COMÉRCIO EXTERIOR – MERCADOS

União Europeia

– Parceiros comerciais da UE relatam problemas enfrentados na apresentação dos certificados sanitários e fitossanitários originais (em papel) nos postos de controle de fronteira (BCPs) da UE. Para evitar dificuldades de entrada de carregamentos na UE, a comissão está recomendando que os países exportadores usuários do sistema TRACES encaminhem os certificados por meio deste;

– Para os países que não utilizam o sistema TRACES (Brasil), os estados membros estão abrindo exceções e permitindo o envio dos certificados originais escaneados, desde que enviados a partir do endereço eletrônico da autoridade competente central e diretamente ao ponto de contato do posto de fronteira ao qual o carregamento correspondente está destinado. Após o período de crise causado pelo Covid-19, os certificados originais (em papel) deverão ser enviados aos postos de fronteira da UE;

– A Alemanha não adotou nem anunciou, até o momento, nenhuma medida oficial que possa afetar o comércio exterior do país de forma geral ou, em particular, com o Brasil. Embora não haja nenhum registro estatístico oficial, a percepção local é de que há um risco mínimo quanto às exportações do agronegócio brasileiro para o país, tendo em conta a preocupação da Alemanha com a segurança alimentar;

– Os Países Baixos têm evitado adotar ações que possam prejudicar seu papel de “hub” logístico e empresarial europeu. No entanto, a redução prevista da atividade econômica poderá prejudicar, mesmo que indiretamente, a atividade de importadores e distribuidores de produtos exportados pelo Brasil para o país;

– Até o presente momento, a França não adotou nenhuma medida oficial que implica na restrição direta e indireta a importações, do Brasil ou de qualquer outro país. Nos últimos 10 dias a população francesa tem buscado adquirir produtos não perecíveis. Como se verifica menor demanda por produtos frescos, é possível que venha a ocorrer diminuição e importação desses itens, a exemplo das frutas;

– Na Itália, o fechamento de restaurantes e bares tem afetado, diretamente, o setor pesqueiro do país, havendo redução drástica na demanda por peixe fresco. Há uma maior demanda por produtos não perecíveis, registrando-se a diminuição na venda de outros bens alimentícios, sobretudo hortaliças e produtos lácteos. De acordo com a Confederação de Produtos Agrícolas da Itália (Copagri), a redução na demanda de produtos frescos já ocasionou, para algumas empresas, a diminuição de quase 90% nos contratos de venda;

– Em Portugal, as providências tomadas não se aplicam, diretamente, a restrições de circulação internacional de mercadorias. Contudo, a inibição da atividade econômica local, terá inevitável impacto sobre a demanda por produtos importados em geral. É provável que esses efeitos se façam notar, nos próximos meses, em função do vencimento de contratos de compra de produtos brasileiros, atualmente em vigor, e da necessidade de renovação;

– Estima-se que na Grécia o fechamento dos bares, restaurantes e cafés deverá ter impacto sobre a demanda local de algumas mercadorias e a redução das atividades de importadores e distribuidores de produtos brasileiros. O café verde, principal item da pauta de exportações brasileiras para a Grécia, poderá ser especialmente afetado caso se confirme a queda do consumo por parte dos torrefadores locais.

Estados Unidos

– O Congresso está analisando um pacote de ajuda que prevê a destinação de US$ 1,2 bilhão para assistência alimentar, incluindo US$ 400 milhões para que o Departamento de Agricultura (USDA) gaste na compra de commodities agrícolas;

– O Departamento de Segurança Interna (DHS) classificou o setor de alimentos como parte da “infraestrutura crítica de saúde”, no qual continuará funcionando sem alterações de jornada. O secretário de Agricultura, Sonny Perdue, fez um pronunciamento assegurando que o sistema de fornecimento de alimentos segue funcionando plenamente;

– No caso da carne suína, a queda na oferta chinesa por conta da gripe suína levou ao aumento de 38,8% nas exportações totais americanas em janeiro de 2020. As exportações para a China cresceram 685,2%;

– Com maior demanda da população na procura por alimentos, tem havido um descompasso entre os preços futuros e os preços no atacado para a carne bovina. O resultado disto foi aumento nos ganhos dos frigoríficos. Para compensar os pecuaristas, grandes frigoríficos ofereceram preços mais altos pelo gado fornecido nas últimas semanas e contratos de longo prazo.

China

– O país pode registrar no primeiro trimestre de 2020, crescimento zero ou negativo (o pior índice em quase 30 anos). Nos últimos dias, o governo chinês tem implementado iniciativas que envolvem estímulo monetário, ampliação dos beneficiários e a aceleração da concessão de empréstimos emergenciais a empresas seriamente atingidas pela crise;

– Dados publicados na última sexta-feira pelo “Ministry of Industry and Information Technology” apontam que, à exceção da província de Hubei (epicentro do Covid-19), mais de 95% das grandes indústrias chinesas e cerca de 80% dos trabalhadores já retomaram suas atividades. Entretanto, estes números estão sendo criticados por mídias especializadas e respeitadas no país;

– Segundo informações oficiais, 60% das pequenas e médias empresas retornaram ao trabalho até o momento;

– A China anunciou redução temporária das tarifas de importação de alguns produtos agrícolas.

Arábia Saudita

– Restrições do governo saudita podem prejudicar as exportações brasileiras de carne de aves para a Arábia Saudita. A população saudita está consumindo mais alimentos comprados em supermercados e parte do volume de carne de aves provenientes do Brasil é direcionada em sua maioria para restaurantes, não possuindo demandas para supermercados.

Austrália

– Os efeitos econômicos da pandemia do Covid-19 indicam a queda na capacidade produtiva (área plantada, tamanho do rebanho) em alguns setores. Dificuldades pontuais de certos setores, como a viticultura e mesmo a pecuária de corte, podem ocasionar oportunidades para produtores brasileiros em alguns mercados.

Tailândia

– Não há, até o momento, nenhuma medida que possa impactar diretamente o comércio de produtos brasileiros exportados para a Tailândia.

Israel

– Importadores israelenses de carne brasileira informaram que não há restrições ou qualquer impedimento à entrada do produto em Israel. No entanto, o abate da carne a ser exportada para Israel deve ser feita na observância dos preceitos judaicos “Kosher”. Este tipo de abate é supervisionado por equipes israelenses e com as restrições de entrada e saída de pessoas tanto no Brasil como em Israel, especula-se impacto significativo no fluxo de exportação da carne brasileira para o país nos próximos meses.

Catar

– O Ministério do Comércio e Indústria Local anunciou um pacote de estímulo às importações de alimentos por meio da celebração de novos contratos. Foram realizados negócios com catorze empresas, visando aumentar o estoque de alimentos e suprimentos em geral no país.

Reino Unido

– O atual cenário de redução de voos internacionais para o Reino Unido poderá afetar a malha de distribuição de frutas frescas brasileiras. Há igual preocupação nos eventuais atrasos no desembaraço alfandegário em portos, por conta da sobrecarga dos canais de entrada no Reino Unido;

– O fechamento de restaurantes e cafés deverá afetar as exportações brasileiras de café e carnes para o país. Cerca de 70% do faturamento de empresas brasileiras do setor de carnes no Reino Unido está vinculado ao abastecimento de restaurantes e serviços de “catering”;

– Há um aumento de vendas de produtos processados. As compras de carne enlatada aumentaram 60% em comparação ao mesmo mês de 2019. Exportadores brasileiros presentes em Londres indicaram aumento nos pedidos de carne enlatada.

Marrocos

– Não há percepção de redução na atividade de importadores e distribuidores de produtos do agronegócio exportados pelo Brasil ao Marrocos.

Vietnã

– O Vietnã ainda sente os efeitos da Peste Suína Africana, o que tem causado efeitos na inflação. O governo avalia a possibilidade de ampliar as importações, caso os preços não se normalizem, o que pode significar um aumento das exportações brasileiras.

Singapura

– As medidas oficiais para conter o vírus, até o momento, não parecem afetar a entrada de produtos brasileiros. Em razão de ser o país carente de recursos naturais, há dependência de importações para garantir a segurança alimentar da população.

Índia

– A Índia implantou um bloqueio geral no país abrangendo o comércio, indústria e transporte, por um período de 21 dias. Somente estão autorizados a ficar abertos as lojas de alimentos, as indústrias de bens essenciais e algumas outras exceções;

– A redução da atividade industrial pode diminuir a demanda de matérias primas agrícolas que o Brasil exporta para a Índia, assim como a redução do consumo familiar também pode afetar outras commodities.

Fonte: Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA)