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Série Rotten, da Netflix, mostra os bastidores podres da comercialização do alho

11 de setembro de 2019

Série em seis episódios revela fraude e corrupção na produção de itens agrícolas básicos, tais como: mel, amendoim, alho, frango, leite e bacalhau

Que os Estados Unidos instituíram barreiras antidumping sobre diversos produtos agrícolas da China não é segredo para ninguém. O que talvez muitas pessoas não saibam é dos mecanismos adotados por exportadores e importadores para burlar tais medidas de importação. A série Rotten (“Podre”), disponível na Netflix, relata – em forma de documentário – as zonas obscuras presentes em diferentes âmbitos do setor agroindustrial, a exemplo do alho.

O terceiro episódio da temporada intitulada garlic breath (“bafo de alho”) mostra os bastidores da comercialização de alho, no qual se sobressaem estratégias agressivas de empresas chinesas, aliadas a corporações americanas para fazer chegar ao mercado da América do Norte um produto com rastros de trabalho escravo.

No capítulo destinado ao cultivo de alho, mostra como uma empresa norte-americada dedicada à comercialização de alhos (Christopher Ranch), por meio de controle da entidade setorial (Fresh Garlic Producers Association), conseguiu implementar barreiras alfandegárias para todas as companhias chinesas exportadoras de alho, menos para uma (Harmoni) que é, precisamente, a que tem negócios com o Christopher Ranch.

O episódio revela ainda que um empresário chinês, radicado nos Estados Unidos e dedicado ao negócio de comercialização de alho descascado, viajou para a China para conhecer o sistema de produção e entender como os chineses são tão competitivos no mercado internacional. A surpresa foi descobrir que a principal empresa exportadora empregava presos como mão de obra escrava para descascar o alho.

Brasil

“Se a série fosse filmada no Brasil, também renderia um bom episódio”, avalia o presidente da Associação Nacional dos Produtores de Alho (ANAPA), Rafael Jorge Corsino.

Na tentativa de burlar o pagamento da alíquota antidumping, importadores buscam brechas por meio de liminares na justiça, a autorização para desembaraçar o alho sem pagar a tarifa de importação, que existe justamente para anular uma prática desleal de mercado: o dumping.

“A lei é clara! O direito antidumping vale para todo e qualquer alho importado da China, independente da classificação”, completou Corsino, ao frisar que a implementação da margem individualizada para a cobrança da taxa antidumping pode propiciar a criação de um monopólio no comércio de importação, tal como ocorreu nos Estados Unidos, com a empresa citada no documentário da Netflix.

“A margem individualizada pode gradativamente concentrar o mercado nas mãos de poucas empresas. Dependo da margem, o produtor não consegue competir”, avaliou o presidente da ANAPA.

Rotten

O documentário é bastante recomendado para compreender como os diferentes segmentos agroindustriais se encontram submetidos à dinâmica da globalização e como as tensões se ajustam geralmente, através dos elos mais frágeis, enquanto que os mais poderosos fazem esforços – empregando todos os recursos ao seu alcance – para garantir cotas cativas de mercado.

A série, que foi produzida por uma equipe de jornalistas profissionais da empresa norte-americana Zero Point Zero, já tem data prevista para o lançamento da segunda temporada, em 4 de outubro.