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Manejo sustentável de fertilizantes fosfatados no alho

02 de agosto de 2019

O crescimento de novas tecnologias de cultivo impulsionou o aumento da produção de alho (Allium sativum L.) no Brasil. Entretanto, a demanda desta hortaliça manteve-se crescente, exigindo processos produtivos ainda mais eficientes.

O mercado de alho tem crescido principalmente devido aos seus benefícios para a saúde em segmentos terapêuticos, como analgésico, anti-inflamatório, antisséptico e antioxidante. Além disso, ele é valorizado em função do seu uso consolidado na culinária das diversas regiões do País, sendo considerado um dos principais condimentos consumidos pelos brasileiros.

Nutrição é essencial

O alho é uma planta com alta demanda nutricional, muito responsiva à adubação química e orgânica. Sabe-se que o preparo do solo e a fertilização adequada das plantas são práticas fundamentais para que ocorra bom desenvolvimento de raízes, formação de bulbos e obtenção de altas produtividades.

Existem diversas práticas e tecnologias de adubação que visam proporcionar um manejo mais eficiente e sustentável das culturas, principalmente quanto ao uso de matéria orgânica, buscando o fornecimento e manutenção das substâncias húmicas (ácido húmico, fúlvico e huminas), aminoácidos, hormônios vegetais, bioestimulantes, micronutrientes e microrganismos.

Dentre esses manejos de adubação e tecnologias, destacam-se os fertilizantes organominerais, que são resultantes da mistura física ou combinação de fertilizantes minerais com matrizes orgânicas, sendo a fonte orgânica originada de diversos processos produtivos, como torta de filtro, cinzas, palha de milho, casca de arroz, turfa, dejetos de animais, cama de frango, biossólidos, etc.

Eficácia

Os organominerais são uma alternativa eficiente de suprimento de nutrientes e matéria orgânica para diversas culturas, e no alho os benefícios podem ser percebidos no crescimento mais adequado da parte aérea, dos bulbos e dos bulbilhos. Além disso, permite a formação de estandes mais uniformes e mantêm a cultura equilibrada nutricionalmente durante todo o seu período de desenvolvimento, diminuindo a proliferação de pragas e doenças.

Todos esses benefícios são possíveis porque o fertilizante organomineral promove alterações no sistema solo-planta, como aumento do carbono no solo, maior atividade microbiana, mineralização de nutrientes, troca de cátions; melhora o tamponamento e estrutura do solo, promovendo maior formação de agregados e aeração, retenção de água, ativação de enzimas e estímulo e/ou inibição de fitohormônios e compostos orgânicos tóxicos.

No alho, a extração de nutrientes tem relação direta com o crescimento e desenvolvimento da planta, sendo o fósforo um dos nutrientes mais requeridos pela cultura. Este nutriente apresenta papel fundamental no metabolismo das plantas, atuando diretamente nos processos de respiração, fotossíntese, divisão celular, crescimento e qualidade de raízes e bulbos.

Pesquisas

Um dos grandes investimentos da lavoura de alho envolve o suprimento de fósforo (P). Entretanto, tem-se observado que o manejo do P tem sido inadequado e indiscriminado, levando a prejuízos econômicos e ambientais, pois o uso excessivo do fósforo, principalmente em pré-plantio a lanço, pode não ser eficientemente aproveitado pelas plantas e, na sua maioria, fixado em formas não lábeis no solo.

Torna-se importante a aplicação sustentável do fósforo, pois as fontes são finitas e esgotáveis, portanto, a aplicação da dose e fonte adequadas permite também um maior retorno econômico para o produtor.

Neste sentido, pesquisas vêm sendo realizadas na Universidade Federal de Uberlândia (UFU) pelos professores doutores José Magno Queiroz Luz e Regina Maria Quintão Lana, junto com graduandos e pós-graduandos, em parceria com a empresa VigorFert, para avaliar o uso eficiente de fertilizantes fosfatados e da adubação orgânica em hortaliças.

Diante do exposto, uma das pesquisas foi com alho, conduzido na Agrícola Wehrmann, no município de Cristalina (GO), visando a comparação entre diferentes fontes de fósforo aplicado em pré-plantio a lanço em área total.

Aplicou-se 1,0 t ha-1 de superfosfato simples em comparação à dose equivalente de P com fertilizante organomineral farelado VigorFert Phos (2,25 t ha-1). Posteriormente, no sulco de plantio foram aplicadas diferentes dosagens de organomineral peletizado 02-20-05. A testemunha consistiu na adubação mineral padrão do produtor, com o fertilizante 03-35-06.

Para a adubação mineral, considerou-se 100% da recomendação (2.200 kg ha-1 de 03-35-06), e para a fonte organomineral estudaram-se diferentes dosagens, sendo o equivalente a 100% da recomendação (3.680 kg ha-1), 80% (2.944 kg ha-1), 60% (2.208 kg ha-1) e 40% (1.472 kg ha-1).

Em relação à produção de alho, a aplicação de 60% da dose de recomendação com organomineral foi semelhante à dose de 100 e 80%, tanto no tratamento com superfosfato simples, bem como no organomineral farelado VigorFert Phos, a lanço e em pré-plantio. Isso mostra que é possível a redução de dose de plantio em até 40%, sem prejuízos à produtividade e qualidade dos bulbos (Tabelas 1 e 2).

Economia

Nas tabelas 1 e 2 observa-se que 100% da adubação mineral aplicada no sulco de plantio foi equivalente a 60% do fertilizante organomineral sobre a produtividade e porcentagem de bulbos comercializáveis (classes 4 a 8).  A maior quantidade de bulbos de classes entre 4 e 8 é de grande importância para o produtor, pois garante melhor retorno econômico. (Tabela 1).

A redução da dose é possível devido ao melhor aproveitamento dos nutrientes pelas plantas, que ocorre em função da liberação gradual dos elementos. Essa característica do organomineral, conhecida como slow release, ou liberação lenta, garante que, mesmo em menores dosagens, os nutrientes sejam aproveitados de forma mais eficiente.

A liberação lenta do P, a proteção dada pela matéria orgânica, o melhor tamponamento do solo e a maior quantidade de água disponível diminuem o processo de fixação do fósforo (Souza, 2014).

A absorção de fósforo é controlada pelo mecanismo de difusão, que é estreitamente dependente da quantidade de água no solo, da temperatura, da viscosidade da água e da tortuosidade da rota a ser percorrida pelo nutriente. Esses fatores têm relação direta com a presença de matéria orgânica no solo.

Mais produtividade

Paixão (2018), avaliando na cultura do alho o uso do fertilizante orgamomineral em pré-plantio, a lanço e em área total em comparação ao uso de superfosfato simples, verificou que o uso do fertilizante organomineral resultou em aumento de 11,73% de produtividade total por hectare em relação à produtividade obtida com o uso de superfosfato simples, correspondendo a um retorno econômico a mais de R$ 20.900,00 por hectare, considerando um preço médio/estimado de R$ 6,50 por kg.

Portanto, a adubação com fonte organomineral para o cultivo do alho é uma estratégia viável que tem proporcionado excelentes resultados na obtenção de altas produtividades e bulbos comercializáveis (classes de 4-8).

Tabela 1. Produtividade e percentual de alhos comercializáveis e destinados à indústria, com       superfosfato simples em pré-plantio. Cristalina (GO), 2018

Tabela 2. Produtividade e percentual de alhos comercializáveis e destinados à indústria, com organomineral farelado VigorFert Phos. Cristalina (GO), 2018

Conclusões

Quando se aplicam altas doses de fósforo em pré-plantio, a lanço, pode-se reduzir a adubação com fertilizante organomineral no sulco de plantio em até 40%, sem prejuízos à produtividade e qualidade final dos bulbos. Nesse caso, a aplicação de altas doses de fósforo não se justifica, pois parte do nutriente poderá ser fixado em formas não lábeis, não ficando disponíveis às plantas na forma lábil.

De acordo com a Embrapa (2018), quase a metade do fósforo aplicado na agricultura na forma de fertilizante inorgânico aplicado nos últimos 50 anos continuam no solo. O excesso de fertilização não traz resultados positivos à lavoura, podendo ainda causar efeitos danosos ao meio ambiente, como desequilíbrios nos nutrientes do solo e na microbiota; contaminar águas superficiais, causando eutrofização das águas e mortalidade de peixes.

Além disso, as fontes de fósforo são finitas, tornando ainda mais importante a adoção de práticas de manejo mais sustentáveis e eficientes (Klein; Agne, 2012).

Fonte: Revista Campo e Negócio