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PRODUÇÃO DE ALHO NO BRASIL TEM ENFRENTADO DIFICULDADES EM FUNÇÃO DAS IMPORTAÇÕES

14 de setembro de 2018

Segundo dados do Ministério da Indústria,Comércio Exterior e Serviços (MDIC), as importações brasileiras de alho totalizaram 109,81 milhões de quilogramas (kg) de janeiro a julho de 2018. Esse valor representou um aumento de 30,52% frente aos 84,13 milhões de kg importados no mesmo período do ano anterior. Destaque para fevereiro/18, quando as importações superaram em 45,18% o volume de fevereiro/17, e março/18, quando foi importada a maior quantidade do período analisado (17,28 milhões de kg).

A taxa de câmbio média do dólar de janeiroa julho deste ano (R$ 3,48) apresentou um incremento de 9,43% em comparação com o mesmo período de 2017 (R$ 3,18). Mesmo com a valorização da moeda americana frente ao real, o valor médio do alho no local de embarque (FOB) em 2018, que foi de R$ 4,07/kg, apresentou uma redução de 43,98% em relação ao FOB médio do ano anterior (R$ 7,27/kg). Em maio/18, que apresentou o menor valor do período em questão, o FOB chegou a R$ 3,99/kg. Esses valores estão demonstrados no Gráfico 1.

Gráfico 1. Preço (FOB) e quantidade (Total e China) de alho importada pelo Brasil de janeiro a julho de 2017 e 2018. Fonte: MDIC. Elaboração: CIM/UFLA/CNA.

Analisando-se as importações brasileiras de alho da China, os números também não se mostram favoráveis ao produtor brasileiro. Em comparação com o período de janeiro a julho de 2017, quando foram importados 23,69 milhões de kg do produto chinês, houve um aumento de 37,03% no volume deste ano (32,46 milhões de kg). O valor médio do alho chinês no local de embarque (janeiro/17 a julho/17), que foi de R$ 6,18/kg, apresentou uma redução de 49,05% no mesmo período de 2018, chegando a R$ 3,15/kg. Destaque para o mês de julho/18, quando o FOB do alho oriundo da China foi de R$ 2,70/kg.

O alho figura na Lista de Exceções à Tarifa Externa Comum (LETEC) com direito de antidumping aplicado às importações brasileiras desse produto com origem na China. A alíquota, que vigora até outubro deste ano, é de US$ 0,78/kg. Considerando-se os valores citados anteriormente e acrescendo-se a eles a tarifa antidumping do alho chinês, chega-se a uma média de R$ 8,67/kg desse produto importado de janeiro a julho de 2017. Para o mesmo período de 2018, esse valor foi 32,30% menor, chegando a R$ 5,87/kg de alho comprado da China. Ressalta-se que ainda existem outras tarifas e impostos que incidem sobre esses produtos.

A produção de alho no Brasil tem enfrentado dificuldades em função dos valores praticados nas importações desse produto. Técnicos do projeto Campo Futuro realizaram levantamentos de custo de produção do alho em larga escala em São Gotardo/MG no ano de 2017 e do alho em pequena escala em Curitibanos/SC em 2018.

Em julho/18, o Custo Operacional Efetivo (COE) da produção de alho em São Gotardo/MG foi de R$ 108.322,85/ha. Somando-se as Depreciações e o Pró-labore a esse valor, temos um Custo Operacional Total (COT) de R$ 111.628,59/ha. Com a produtividade informada pelos participantes do painel de 17.000 kg/ha, e as cotações do alho na região em R$ 5,16/kg, a Receita Bruta (RB) do produtor no município mineiro em julho/18 foi de R$ 87.720,00. Esse valor foi insuficiente para cobrir o COE, resultando em uma Margem Bruta (MB = RB – COE) negativa em R$ 20.602,85/ha e uma Margem Líquida (ML = RB – COT) também negativa em R$ 23.908,59. Tais informações estão descritas no Gráfico 2. Em valores unitários, MB e ML foram, respectivamente,-R$ 1,21/kg e -R$ 1,41/kg.

Gráfico 2. COE, Depreciações + Pró-labore, Receita Bruta e Margens por hectare da produção de alho em São Gotardo/MG e Curitibanos/SC em julho de 2018. Fonte: Projeto Campo Futuro CNA. Elaboração: CIM/UFLA/CNA

No município de Curitibanos/SC, os valores de COE e COT em julho/18 foram, respectivamente, R$ 69.346,17/ha e R$ 75.073,73/ha. Com a produtividade de 12.000 kg/ha informada pelos participantes do painel e as cotações do alho na região em R$ 5,25/kg, a RB do produtor no município catarinense foi de R$ 63.000/ha naquele mês. Esses números, assim como em São Gotardo/MG, resultaram em margens negativas de R$ 6.346,17/ha (MB) e R$ 12.073,73 (ML). Analisando-se os custos e a receita por quilograma de alho produzido, como observa-se no Gráfico 3, esses valores foram de -R$ 0,53/kg e -R$ 1,01, respectivamente.

Um cenário de Margem Bruta negativa indica a necessidade de aporte de capital para que o produtor siga na atividade. Com as baixas cotações do alho, influenciadas pelo volume importado e pelo preço pago ao produto estrangeiro, esse setor do agronegócio brasileiro vive uma momento de crise que desestimula a produção de alho no país.

Gráfico 3. COE, Depreciações + Pró-labore, Receita Bruta e Margens por quilograma da produção de alho em São Gotardo/MG e Curitibanos/ SC em julho de 2018. Fonte: Projeto Campo Futuro CNA. Elaboração: CIM/UFLA/CNA.

Fonte: https://www.cnabrasil.org.br
Por: CNA em parceria com o SENAR e o CIM/UFLA