Um tratoraço durante a semana, em Curitibanos, levou mais de cem produtores de alho às ruas para protestar contra a importação do produto de países como a Argentina e a China, feita pelo governo do Estado. Em toda a região, no Meio-Oeste catarinense, são mais de mil produtores que se vêem com os barracões lotados, sem conseguir bons preços e enfrentando a baixa procura. Se no mesmo período do ano passado o quilo do alho chegou a ser vendido a R$ 8, hoje, em muitos casos, não passa de R$ 3.
— Com um preço desse não vai compensar trabalhar. Precisamos que o governo olhe para o nosso lado e diminua a importação e demais incentivos para que a gente possa continuar batalhando nessa área — afirma o agricultor Miguel Melo, um dos que participaram da manifestação.
A situação é tão complicada, que a prefeitura de Frei Rogério solicitou decreto de situação de emergência em função da crise no setor. Na cooperativa de alho de Frei Rogério, falta espaço para estocar o produto que chega do produtor. Só local, são pelo menos 400 toneladas esperando uma solução. Segundo Rodrigo Novascoki, gerente cooperativa, a comercialização no Sul do Brasil é no período de dezembro a junho, e até agora só 40% da mercadoria foi vendida.
— Nunca tínhamos passado por um problema tão grande como agora — afirma Novascoki.
Dados da Epagri mostram que 80% do produto produzido na região estão estocados. Um prejuízo que já passa de R$ 60 milhões, segundo o órgão.
— Este ano a gente não está conseguindo alcançar R$ 3 o quilo do alho bom, bem classificado. O preço não paga nem o custo, que é de R$ 6 — comenta Adriana Francisco, engenheira agrônoma da Epagri.
A engenheira explica que com menos impostos e com pouca fiscalização, outros países conseguem trazer ao Brasil um alho bem mais barato, e os produtores brasileiros sofrem as consequências.
O agricultor Rogério Maciel, por exemplo, teme pelos mais de 20 mil quilos de alho estocados na propriedade dele, em Frei Rogério.
— Se a gente conseguisse vender mesmo com o preço baixo, o problema seria menor. Se não conseguimos dinheiro para pagar o total da dívida com empréstimos, pelo menos sobra um valor menor, para você honrar de alguma forma. Só que sem vender, realmente não tem muito que o produtor fazer — lamenta Maciel.
Sem dinheiro, os empréstimos rurais vencem e os juros se acumulam. Em maio começa o plantio da próxima safra, é preciso preparar o solo, o que acaba gerando mais custo para o produtor.
— Já tem custos, de correção de solo, de diesel, dos insumos que vão para a nova lavoura. E pra isso a gente precisa do dinheiro da venda para ir honrando e ir tocando a próxima safra — explica o agricultor.
Contraponto
O governo do Estado, junto com a bancada federal catarinense e representantes da Associação Nacional dos Produtores de Alho, levou s reclamações do setor ao Ministério da Agricultura. Na reunião, conseguiram a autorização para renegociação das dívidas dos produtores, prorrogando os prazos para pagamento de financiamentos. A medida atende muitos produtores, porém outros não poderão ter acesso à decisão, já que compromete a capacidade de endividamento. Segundo a assessoria do Estado, os técnicos da Epagri dos municípios estão à disposição para orientar os produtores quanto a isso. Os representantes dos produtores denunciaram ainda a entrada de alho com indícios de fraude tributária pelos portos do Rio de Janeiro. A Secretaria de Defesa Agropecuária do Mapa se comprometeu a agir de forma intensiva para evitar que o produto chegue ao mercado com preços muito baixos, que derrubem os praticados no Brasil.