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Crise no setor do alho deixa produtores preocupados

12 de abril de 2019

Concorrência com produtos importados e queda nos preços dificulta comercialização da olerícola

“É triste dizer que estou pensando em para com a produção de alho, até porque faço isso há 22 anos”, diz o produtor Rudinei Antonio Giotto, morador da comunidade de Monte Bérico, e que colheu na última safra 70 mil quilos do produto.

Rudinei é um dos inúmeros produtores de alho que está enfrentando dificuldades na comercialização da olericola. Preços baixos, crescimento das áreas plantadas em países produtores (a China registrou aumento de 15% na área cultivada e a Argentina de 50%), dificuldades na taxa antidumping e concessão de liminares têm feito o setor viver uma das piores crises dos últimos anos.

O preço do produto sofre com a demanda da China, que precifica o mercado mundial e tira a competitividade do produto nacional. Outro problema tem sido a renovação da taxa antidumping – a tarifa venceu em 2018 e foi prorrogada para mais um ano, com vencimento em outubro – além dos processos liminares judiciais, que permitem o desembarque do alho importado sem o pagamento da taxa antidumping. Sem aplicação do direto antidumping, o produto importado da China pode chegar até R$ 30 abaixo do custo de produção do alho nacional.

“O preço do alho não está a contento do produtor, mesmo com a taxa antidumping. Hoje o produtor está vendendo em torno de R$ 1 acima do número de classificação. É muito pouco, pois isso não cobre o custo de produção”, explica o vice-presidente da Associação Nacional dos Produtores de Alho (ANAPA) e presidente da Associação Gaúcha dos Produtores de Alho (AGAPA), Olir Schiavenin.

A maior preocupação do setor é que a taxa antidumping não seja renovada, como ocorreu com o setor leiteiro e que posteriormente foi revogada. “É nosso maior receio, pois se isso não ocorrer podemos dar adeus a cultura do alho. Mesmo com a taxa temos dificuldades em competir, imagina sem. O dumping nada mais é que você vender num terceiro país a preço menor do que você pratica no pais de origem. É isso que está acontecendo com a China. Eles vendem mais barato aqui do que comercializam lá, pois o governo subsidia. Se o governo desses subsidia, a nosso governo tem de compensar isso sob a pena de quebrar a produção nacional”, diz Schiavanin, que nessa semana viajou a Brasília para tratar sobre esse e outros assuntos.

Neste e no próximo mês já estão agendadas ações que visam sensibilizar o Governo Federal em relação a taxa antidumping do alho e as concessões de liminares. “ Muitos produtores diminuíram a área plantada e muitos agricultores familiares estão endividados, sem perspectiva de produção para a próxima safra. A situação é gravíssima” alerta o presidente da ANAPA, Rafael Jorge Corsino.

Em Flores da Cunha, o alho é cultivado em aproximadamente 70 hectares, produzido anualmente cerca de 700 toneladas – muitos produtores do município têm área arrendadas em outras localidades. O Rio Grande do Sul é o quarto maior Estado produtor com 11,9% da safra brasileiras. Atualmente, os produtores de alho estão na fase de comercialização da última safra.

Conforme conjuntura da Emater/RS, a estimativa é que 60% da safra já tenha sido comercializada. O preço médio do alho está entre R$ 4 a R$ 5. O Brasil compra de outros países metade do alho que consome.

“Vivemos em um momento de incertezas sobre o que fazer”

O Agricultor Rudinei Antonio Giotto, morador da comunidade de Monte Bérico, cultiva alho desde os seus 14 anos, hoje está com 36 anos, e nunca enfrentou tantas dificuldades como nos dois últimos anos. “ O custo de produção está alto e o valor de mercado muito baixo. Se colocarmos todas as despesas de produção, com defensores, maquinários e mão de obra, não temos nenhuma margem de lucro”, diz.

Na última safra, Giotto plantou seis hectares de alho – numa área no município de Ipê -, e colheu 70 mil quilos. Para essa quantidade, seu custo de produção chegou aos 300 mil. “O alho tem um ciclo longo, que girar em torno de 16 meses, desde a separação das sementes até o pagamento completo, e isso se torna oneroso. Se a taxa antidumping não for renovada vai inviabilizar e será impossível sustentar a produção”, destaca ele, que até o início de maio devera comercializar toda a safra num valor médio de R$ 5 ao quilo.

As expectativas estão tão incertas que Giotto não sabe o que irá fazer na próxima colheita, embora já tenha separado as sementes para o plantio de alho. Uma das alternativas é que utilizará parte das terras do alho para cultivar outras produções, como beterraba e cenoura. “ O mais sensato seria diminuir a área de plantio, mas vou aguardar para ver se o mercado dá uma reagida. Por enquanto, vivemos um momento de incertezas sobre o que fazer. Na verdade, vou plantar outras culturas para pagar o alho”, comenta.

Para ele, o momento é de segurar as contas, tentar manter a sustentabilidade da produção e não realizar investimentos. “ O ruim disso é que quando você aprende a dominar as técnicas de plantio do alho, investe e passa a manter uma boa produção, ocorre essa crise e você tem que partir para uma cultura nova e desconhecida e começar tudo de novo”, lamenta.