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Alho-semente livre de vírus aumenta produtividade em até 100%

31 de maio de 2023

Graças à pesquisa da Embrapa Hortaliças, grandes e pequenos produtores de alho podem contar com plantações imunes a pragas

Por Helena Dornelas – Correio Braziliense

28/05/2023

O trabalho da Embrapa Hortaliças em pesquisas sobre alho-semente livre de vírus trouxe um enorme benefício aos produtores que, agora, podem contar com plantações imunes a umas das maiores pragas.

Desde os anos 1960, o Brasil depende da importação de alho e, até a década de 1990, a produtividade nacional era, em média, de 4 a 8 hectares, além da baixa qualidade. Com base nisso, pesquisadores começaram a estudar os vírus que atingem as plantações, que são pertencentes aos gêneros Allexivirus, Carlaviruse e Potyvirus. Os mais de 30 anos de trabalho valeram a pena.

Francisco Vilela Resende, pesquisador da Embrapa em cultura de alho, explica que a planta pode ser infectada por várias espécies ao mesmo tempo, o que aumenta os prejuízos para a cultura. “Pode-se afirmar, com certeza, que as viroses são as principais doenças do alho, devido aos imensos prejuízos que causam por causa da drástica redução de produtividade”, observa. Para os produtores, Francisco ensina como identificar quando há contaminação. “Surgem sintomas visuais observando estrias e amarelecimento das folhas e redução da capacidade de fotossíntese, mas, principalmente, pela redução drástica do vigor vegetativo e da produtividade ao longo dos ciclos de cultivo”, detalha o especialista.

É pelos bulbilhos, as estruturas que podem ser atacadas pelos vírus, que ocorre a multiplicação do alho-semente. Também é a parte utilizada para temperar alimentos. Para o plantio, eles são classificados por tamanho em peneiras específicas, sendo que os maiores são preferidos para o plantio. Isso em função de produzirem bulbos ou cabeças maiores que vão alcançar preços mais vantajosos no mercado.

Expansão

A tecnologia brasileira mudou o cenário de produção de alho no país em quase 100%. “O uso de alho-semente livre de vírus foi introduzido e ganhou força na cadeia produtiva a partir do início dos anos 2000. Nessa época, foi desenvolvido um protocolo de multiplicação do produto livre de vírus, permitindo que os agricultores tivessem acesso a essa tecnologia”, relembra o pesquisador.

Para o processo de melhoramento do cultivo de alho-semente, Francisco esclarece que os vírus não podem ser eliminados das plantas utilizando defensivos e substâncias químicas, como é feito para outros tipos de doenças. “O processo só pode ser feito em laboratório, por meio de técnicas de micropropagação in vitro, que permitem isolar e regenerar novas plantas utilizando microestruturas chamadas meristemas”, destaca Resende.

O acesso pelos agricultores à tecnologia foi possível por meio da manutenção de estoques básicos de alho sem patógeno. Para isso, são utilizados telados (espécie de estufa) à prova dos insetos disseminadores dos vírus, e, assim que o alho-semente se estabelece, são transferidos para as lavouras comerciais. Esse sistema de multiplicação direcionou o produtor a separar a área para cultivo de alho-semente da área de alho comercial, além de selecionar os melhores bulbos e bulbilhos para o plantio.

De acordo com o pesquisador, o potencial de resposta do alho livre de vírus depende, também, do nível tecnológico e da capacidade de investimento do agricultor.

Atualmente, os produtores de alho têm amplo acesso à essa tecnologia, tanto os grandes quanto os agricultores familiares. O desenvolvimento dessas estruturas permitiu aos agricultores a garantia e a manutenção de estoques e a multiplicação em escala na maioria das regiões de cultivo. O alho livre de vírus contribuiu para o aumento da produtividade, que era de quatro toneladas por hectare na década de 1990, para 12 a 15 toneladas por hectare, em regiões de pequenos agricultores. Em áreas de grandes produtores, passou de oito a 10 toneladas para até 28 toneladas por hectare.

Embrapa Hortaliças

A Embrapa Hortaliças, responsável pela pesquisa sobre alho-semente livre de vírus, é uma das unidades descentralizadas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Foi criada em 1981, com foco em pesquisa para a produção eficiente e competitiva da olericultura — área da horticultura que explora espécies de hortaliças. O trabalho da unidade é voltado para o desenvolvimento de materiais adaptados às condições climáticas brasileiras, proporcionando a ampliação da fronteira agrícola de hortaliças e regularizando a oferta de produtos ao longo do ano.

Telados

Espécie de estufa que impede os insetos vetores dos vírus chegarem até a plantação de alho-semente.

Acesse a matéria no site: https://www.correiobraziliense.com.br/cidades-df/2023/05/amp/5097461-alho-semente-livre-de-virus-aumenta-produtividade-em-ate-100.html