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[REVISTA CAMPO E NEGÓCIO] Alho brasileiro sofre concorrência desleal

14 de março de 2018

O Brasil tem enfrentado uma crise na produção de alho, com concorrência direta e desleal da China, Argentina e Espanha,além de outros países, que têm subfaturado seus preços, deixando os produtores brasileiros em alerta

Mesmo diante das dificuldades que a cadeia produtiva do alho enfrenta no que diz respeito à comercialização, a área de produção da cultura no Brasil não diminuiu.A área brasileira destinada ao cultivo de alho está em torno de 12 mil hectares. Segundo Rafael Corsino, presidente da Associação Nacional dos Produtores de Alho (ANAPA), nos últimos anos essa área cresceu pouco. “Eram 10 mil hectares há três anos, e agora são 12 mil. Esses doze mil hectares representam o volume de venda de mais ou menos 14 milhões de caixas de alho ofertada para o mercado. Há três anos esse volume era de 12 milhões de caixas de alho”, contabiliza.

A região brasileira que mais produz alho, atualmente,é o Estado de Minas Gerais, que tem aproximadamente 4,5 mil hectares plantados, seguido por Goiás, com 2,5 mil hectares, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, cada um com 1,8 mil hectares.

Profissionalismo

Rafael Corsino garante que os plantios brasileiros de alho são tecnificados, sendo que os produtores usam pacote tecnológico bastante avançado. “Mas, o que confere a qualidade e o sabor (diferenciais do alho brasileiro) é a genética do alho produzido.A qualidade do alho roxo é muito superior ao do alho castanho ou branco, esse último produzido na China. O primeiro é muito mais consistente, diferente do chinês, que é murcho por dentro, se assemelhando ao isopor”, compara.

Além da consistência, o alho brasileiro tem maior pungência em relação ao chinês, ou seja, são necessários até cinco dentes do alho chinês para conferir o sabor de um dente do alho roxo. “Fizemos análises junto a universidades e constatamos que os compostos nutricionais do alho roxo são cinco vezes maiores do que do alho chinês”, comprova.

Sem vírus

Uma tecnologia de grande avanço na cultura do alho brasileiro é ser livre de vírus. “Existia uma virose crônica em todas as sementes de alho do Brasil que, quando atacava em estágio avançado, a planta não expressava o seu potencial produtivo.Então, entrou a tecnologia da Embrapa e também de empresas particulares limpando o vírus pela cultura de meristema.Ao tirar esse complexo viral, a planta passou a produzir muito acima da média. De uma produção de 1.100 caixas, por exemplo, passoua duas mil caixas por hectare, no caso da semente de alho livre de vírus”, conta Rafael Corsino.

A tecnologia da semente de alho livre de vírus acontece em laboratório, e outros países, como Argentina, também fazem uso da técnica. A Epagri de Santa Catarina também realiza a limpeza do vírus, sendo parceira da Anapa para fornecer esse material para os produtores da região sul.

Já a Embrapa trabalhou no desenvolvimento dessa tecnologia, que foi um dos principais pontos para o aumento da produtividade do produtor de alho brasileiro. Outras tecnologias que agregam à atividade sãoo manejo de fungicidas, herbicidas, inseticidas no melhor controle de fungos, bactérias e doenças de solo, trazendo melhoria na eficiência e produtividade das lavouras brasileiras de alho.

Importação

O consumo nacional total de alho fica em torno de 30 milhões de caixas, ou seja, 16 milhões de caixas de alho são importadas. Entre os três principais fornecedores de alho para o Brasil, predomina ainda a China, com 46,46% do consumo aparente brasileiro, seguido da Argentina, com 39,01% e da Espanha que a cada ano cresce e já atingiu com 11,59% em 2017. O volume total importado desses três países foi de 15.457.639 caixas de dez quilos e o preço médio Fob declarado de US$ 17,83/caixa.

Subsídios

A China tem uma série de subsídios e incentivos governamentais. Diante disso, afirma Rafael Corsino, nenhum produtor de alho do mundo consegue competir com o chinês. “Tanto é verdade que ninguém entra no mercado chinês. Nos Estados Unidos eles têm uma tarifação de 370%, na Europa tem cota e época de entrada. Ou seja, em todo e em qualquer lugar que a China for disputar mercado, se não anular essa prática de subsídio pesado governamental, o alho brasileiro não conseguirá concorrer com o chinês, muito em função da prática do dumping. Desde 1996 foi implantada a tarifa para o mercado brasileiro e perpetua até hoje. Em 2018 vamos entrar em outro embate, solicitando a renovação dessa tarifa novamente por mais cinco anos”, detalha.

O custo do alho europeu (espanhol) é de US$ 20/cx, assim como o alho da Argentina, enquanto o alho brasileiro está em US$ 23/cx. “O europeu subfatura o alho dele, que custa US$ 20, mas é vendido para o Brasil a US$ 15.Como existe a tarifação de 35%, isso tem um impacto grande na formação do custo do alho europeu quando chega ao Brasil.Essa tática é para tornar o alho europeu competitivo no mercado brasileiro”, avalia Corsino.

Liderança da China

A China dominou a oferta de alhos importados no ano de 2017, com 7.398.339 caixas, volume inferior a 2016, que foi de 9.614.819 caixas de 10 kg. O preço médio Fob praticado em 2017 foi de US$ 13,30, contra US$ 16,66/cx em 2016. Em dezembro de 2017 foram importadas 864.550 caixas, volume muito superior ao ano de 2016, que foi de 371.200 caixas.

Fonte: http://www.revistacampoenegocios.com.br/alho-brasileiro-sofre-concorrencia-desleal/